
Ricardo Salgado
Global Imagens/Diana Quintela
O presidente do BES considera «terrível» cortar nas pensões e avisa que os salários têm de continuar a cair. Novo mandato? «Nos temporais fazem falta marinheiros experientes».
Ricardo Salgado classifica de «terrível» a intenção de cortar nas reformas já existentes.
Entrevistado na TSF e Dinheiro Vivo, o presidente do BES sublinha que o estado tem de ser sustentável, mas insiste que é «terrível» se houver alterações nesse capítulo. Mas todos percebemos que o Estado tem de encontrar o seu nível de sustentabilidade. Como? «Tem de haver um novo estado de espírito e compreensão entre todos. Dirão que para um banqueiro é fácil falar com mais conforto. Também lhes digo que a carga fiscal acima dos 150 mil euros é brutal e como portugueses temos de fazer tudo para ajudar o país».
Ainda assim, diz o presidente do BES, há imperativos éticos que devem ser levados em conta no corte da despesa do Estado: «moralmente as pessoas com remunerações mais baixas não podem ser penalizadas nas suas reformas. É uma coisa que me choca muito».
Salários têm de continuar a cair
O presidente do BES elogia o regresso aos mercados de dívida a dez anos, que considera fundamental no caminho para a independência financeira do país, mas lembra que o ajustamento da economia portuguesa tem de continuar e por isso deixa um aviso: os salários têm de continuar a cair. Ricardo Salgado diz que o aperto de cinto «vai ter de continuar até vermos a luz ao fundo do túnel, e não vimos ainda. Temos de continuar a ter moderação salarial, a reduzir custos e remunerações em todo o lado. Toca a todos».
« Em alturas de temporal fazem falta marinheiros experientes»
Ricardo Salgado lidera o BES há mais de 20 anos, desde a reprivatização.
O mandato actual termina em 2015, e nos últimos meses surgiram dúvidas em relação à sua continuidade à frente do banco, muito por força das notícias, entretanto desmentidas, de que teria fugido ao fisco.
Nesta entrevista, e pela primeira vez, o actual presidente deixa nas entrelinhas que a sua continuação à frente do banco seria uma escolha acertada por parte dos accionistas: « Faço o possível por me manter em forma. Esta crise requer experiência» . E usa uma metáfora marítima para expressar a sua vontade: «Sempre fui muito ligado ao mar. Fiz o serviço militar na Marinha e toda a vida fui desportista de vela. E sempre disse que os marinheiros mais experientes são aqueles que conduzem melhor as embarcações quando há um temporal muito grande».
Perfil
Ricardo Espírito Santo Salgado nasceu em Cascais em 1944, é economista e um dos mais conhecidos banqueiros portugueses. Lidera o BES desde a reprivatização, que aconteceu no início dos anos 90. É a face mais visível da mais antiga família da alta finança do País.
Enquanto líder do BES tomou sempre posições públicas de apoio aos vários Governos. Durante o executivo de José Sócrates, por exemplo, elogiou o Ministro das Finanças Teixeira dos Santos até ao último momento, e apoiou as orientações políticas do executivo, incluindo as decisões sobre o TGV e o novo aeroporto de Lisboa. Mais tarde reconheceu que o país não tinha condições para avançar com essas obras.
É apaixonado por vela, em particular por pequenos barcos de regatas. É casado, tem três filhos e seis netos.