Catarina Portas: «Grande distribuição devia ser investigada e sancionada» (vídeo)

Catarina Portas
Global Imagens/Gerardo Santos
A empresária Catarina Portas, dona da marca "A Vida Portuguesa", acredita que a grande distribuição alimentar está a asfixiar os fornecedores.
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Catarina Portas acredita que a grande distribuição, sobretudo no setor alimentar, deveria ser muito mais investigada pela autoridade da concorrência.
A empresária, que em 2004 e depois de quase duas décadas de jornalismo, se aventurou no mundo dos negócios, é dona de uma das marcas de maior sucesso e reconhecimento no universo das PME: as lojas "A Vida Portuguesa", que comercializam - e revitalizaram - marcas portuguesas vintage, casos das peças clássicas das louças Bordallo Pinheiro, dos produtos de Perfumaria AC Brito, das sombrinhas de chocolate Regina, entre muitos outros.
E a empresária acredita, pelo contacto que tem com as centenas de fornecedores com os quais trabalha, que a atenção que se deu ao tema depois da polémica em torno da promoção do Pingo Doce no 1º de Maio do ano passado não resolveu o problema de asfixia dos fornecedores da Sonae e da Jerónimo Martins. Afirma que «a grande distribuição está a açambarcar posições e devia ser muito mais investigada e sancionada pela autoridade da concorrência. Temos neste momento uma grande distribuição alimentar que é dominada em 70% por duas empresas. Isso significa um poder de vida ou de morte sobre os seus fornecedores». E ilustra a ideia com um exemplo: «quando entro num Pingo Doce e olho para a prateleira dos fiambres, e onde antes havia várias marcas, há hoje oito embalagens de marca própria, e depois tenho duas embalagens de Nobre com os preços super-inflacionados que só lá estão para fazer vender a marca própria», afirma.
Catarina Portas confessa que já discutiu o tema com o irmão, o vice-primeiro-ministro Paulo Portas, diz que as diferenças ideológicas são «a coisa mais natural que existe» e afirma, entre risos, que Paulo Portas «não precisa de conselhos»
Cada compra é um voto
A empresária, que também se lançou no negócio de recuperação dos quiosques tradicionais de Lisboa - recuperando ao mesmo tempo as receitas das bebidas de época que lá se vendem - considera que a população começa a ganhar consciência da importância das escolhas que fazemos quando vamos às compras. Afirma que «De 4 em 4 anos votamos e elegemos o Governo. Mas todos os dias, quando vamos às compras, há uma espécie de voto. Estamos a votar em empresas». E questiona: «queremos dar o nosso dinheiro a uma empresa que paga salários em Portugal seguindo as regras que temos, ou queremos dá-lo a uma empresa que está a cilindrar toda a gente que está no mercado e cujo único fator é o preço?»
E, quando questionada sobre se está a pensar nalgum caso em particular, volta à carga: «estou a pensar na grande distribuição. Já ouvi histórias terríveis. De empresas que só não acabaram porque têm pessoas muito valentes à frente».
Nesta sexta-feira Catarina Portas fez a festa de inauguração da maior loja que abriu até agora: a "A Vida Portuguesa" chegou ao renovado Intendente, com uma loja de 500 metros quadrados.
É o último capítulo de uma história que começou em 2004, com um investimento de mil euros e sem crédito bancário. Uma história que tem corrido bem. Nos últimos anos, o negócio tem crescido a quase 10% por ano, apesar da crise.
No último ano faturou 1 milhão e 300 mil euros, com uma importância crescente do turismo: quase 50% da faturação vem dos turistas que visitam Lisboa e Porto.
Perfil
Catarina Portas tem a mesma gargalhada sonora do irmão, o vice-primeiro-ministro Paulo Portas. E, como o irmão, também foi jornalista. Mas as semelhanças - pelo menos as públicas, as mais evidentes - terminam aí. As preferências políticas, por exemplo, são opostas.
Ao fim de quase 20 anos como jornalista, e depois de passar por rádios, jornais e televisões, Catarina Portas lançou-se no mundo dos negócios.
Criou uma das marcas mais reconhecidas do contexto das PME: A Vida Portuguesa, que se dedica a vender produtos clássicos nacionais, que surgiram entre os anos 20 e os anos 60, com o design original. Com essa ideia, não só fez negócio como ajudou a recuperar muitas destas empresas, que de repente viram as vendas multiplicar-se. As andorinhas de Bordallo Pinheiro são um bom exemplo: «Era uma peça esquecida. A Bordallo fazia 10 por ano. Agora vendem-se 10 mil».
Virou-se depois para os quiosques tradicionais de Lisboa. Recuperou alguns. Recuperou os quiosques e as receitas das bebidas de época que lá se vendem.
As revistas Wallpaper e Monocle repararam em Catarina Portas: a primeira falou dela como uma empreendedora de destaque, a segunda incluiu-a numa lista de 20 figuras a nível mundial que merecem ser acompanhadas.
No mês passado, a Vida Portuguesa pagou 26 salários. Os pedidos de franchising têm sido muitos, mas com pouca sorte: foram todos rejeitados. Esta empresária, que «gosta de controlar», talvez se aventure a ir lá para fora no próximo ano ou em 2015.