
Para o antigo responsável global da tesouraria e dos mercados financeiros do grupo Santander e atual consultor da área de aconselhamento financeiro a famílias na Golden Assets, «a governação é fraca», «o PS e o PSD brincaram com o povo» e no mundo financeiro não houve mudança de comportamentos, o que para ele «maximiza a crise».
Muito crítico em relação aos partidos e ao governo, João Ermida defende que a governação em Portugal é fraca porque ataca a população mais desfavorecida. Entrevistado pela TSF e pelo Dinheiro Vivo, o consultor compara mesmo a governação ao jogo SimCity. «O jogo do SimCity é aquele em que a gente sobe os impostos e a população desaparece, se pensar no SimCity em Portugal , a população que foi mais atacada é aquela que não pode fugir, portanto é um jogo de SimCity que foi falseado», afirma.
Para João Ermida, o programa de resgate podia ter sido evitado se PS e PSD se tivessem posto de acordo em relação a «quais as medidas que queriam apoiar antes do resgate ter acontecido». «Os dois partidos andaram a brincar com o povo», diz.
«Veja o programa eleitoral de Pedro Passos Coelho antes de ser eleito, é pegar em tudo aquilo que ele disse e dizer: é tudo o que eu prometi, mas é tudo o que não posso fazer», acrescenta João Ermida.
Na entrevista, o consultor recorda que há 20 anos fez campanhas pelo PSD , mas diz que depois deixou de acreditar na política. «Quando você conhece aquele mundo percebe que é um mundo onde não deve estar, porque não vale a pena», afirma João Ermida que acrescenta « as pessoas utilizam a política para conseguir um emprego, para conseguir uma posição, para subir na vida e eu acho que subir na vida tem que ser por mérito , não porque eu andei a colar cartazes».
«Há um grupo na banca de investimento que continua a não querer mudar de comportamento»
João Ermida lamenta que no mundo financeiro não tenha havido uma mudança de comportamentos e defende que a ganância não está a ajudar a combater a crise. Para ele há uma atitude comportamental, principalmente na banca de investimento, que não ajuda a crise a passar e até a maximiza. «Não digo que as pessoas que estão a gerir os bancos pensem todas da mesma forma, mas existe um grupo muito específico na banca de investimento (...) que olha para as situações e diz: eu quero é ser rico e muito rapidamente , não interessa se isso vai ser à custa de muita gente, se vai ser à custa de pouca gente», afirma o consultor que escreveu o livro " O Dono do Mundo", um romance que descreve um ambiente de ganância, guerras de poder, mentiras e ausência de valores na alta finança.
Questionado sobre se é um banqueiro arrependido, o antigo responsável global da tesouraria e dos mercados financeiros do grupo Santander diz que não, mas confessa não se revê no atual mundo financeiro. «Não me revejo a ter de voltar a estar numa situação a ter de fazer coisa sem que não acredito», diz João Ermida.
Perante a falta de valores que diz haver no mundo financeiro, João Ermida vê com bons olhos a criação de um banco ético, mas considera que «Portugal não tem dimensão para uma coisa desse tipo».
«Sistema financeiro português é perfeitamente confiável»
«Não me ponho hoje a pensar se vou tirar dinheiro de um banco e pôr noutro» afirma João Ermida que acredita não haver razões para apreensão relativamente à banca nacional. «Acho que sistema financeiro europeu, como o sistema financeiro português é perfeitamente confiável».
João Ermida admite no entanto que escolhe os bancos mais pela rentabilidade do que pela segurança e confessa que prefere ter ativos próprios que não sejam somente depósitos.