A Feira do Livro de Lisboa recebeu, sexta-feira, o primeiro de um ciclo de debates sobre o futuro. Debruçou-se sobre a cidade de Lisboa e entre os convidados encontravam-se Helena Roseta e Pedro Santana Lopes. Os cidadãos não faltaram ao apelo.
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O que se pedia aos convidados é que delineassem o que deveria ser a cidade do futuro. Num tópico todos concordaram - o excesso de automóveis na cidade.
Este debate reflectiu uma cidade onde entram 700 mil carros por dia, que perde a população do centro para «engordar» os subúrbios onde a habitação é mais acessível mas desordenada, onde há pouquíssimos habitantes para o número de casas e onde é necessário uma rede de transportes públicos mais forte.
«Uma cidade obesa»
O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, acérrimo defensor das hortas de Lisboa, da recuperação dos hábitos rurais e de um equilíbrio verde na cidade, acusou Lisboa de estar «obesa».
«Os subúrbios têm obesidade na arquitectura, ocupam volumes monstruosos e não servem a qualidade de vida das pessoas», afirmou.
«A Lisboa que eu gostaria tem primeiro que ser compreendida na sua globalidade e no seu inter-relacionamento com a área metropolitana», disse o arquitecto e acrescentou: «A cidade que eu desejo é a que tem hortaliça!».
O Francisco Nunes Correia, engenheiro, partilhou das ideias de Ribeiro Telles, apenas discorda com as hortas como forma de sobrevivência de alguns cidadãos. O responsável do Programa Polis considera que o contacto com o mundo rural deve servir, principalmente, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.
O défice ecológico das cidades
A aproximação de Helena Roseta à Lisboa do futuro aproxima-se da de Ribeiro Telles pela importância reservada à ecologia e equilíbrio ambiental.
«Há um défice ecológico nas cidade», afirmou a arquitecta.
Helena Roseta baseou a sua cidade em sete pontos: o espaço público que fomenta a cidadania, as acessibilidades, que são um exemplo de enormes problemas - «O trânsito é um sítio onde se está» - afirmou a deputada.
Regular o mercado imobiliário; a gestão do tempo, que é fundamental para a qualidade de vida das pessoas, pois «a cidade come-nos muitas horas».
E ainda a cidade pensada para a diferença, «uma cidade pensada para a pequena escala».
Densidade, mobilidade, modernidade
Manuel Graça Dias afasta-se dos quintais de Ribeiro Telles e aproxima-se do cosmopolitismo. O conhecido arquitecto defende uma rede de transportes forte, quase «militante», porque considera que os automóveis ocupam demasiado espaço e acrescenta que é um meio de transporte «em vias de extinção».
Manuel Graça Dias defende mais habitantes dentro da cidade baseado em densidade, mobilidade e modernidade.
O presidente da Câmara, Pedro Santana Lopes, defendeu o equilíbrio, a reabilitação de edifício abandonados dentro da cidade, criar auto-sustentabilidade de cada bairro.
Uma cidade lógica
«Uma cidade mais lógica», é o que pede Santana Lopes.
O autarca mostrou-se disposto a lutar contra o desordenamento dentro da cidade e quer levar os lisboetas a passearem nos sítios mais bonitos de Lisboa que agora se encontram ao abandono.
Santana Lopes sublinhou duas questões que considera fundamentais: a segurança e os transportes públicos, considerando que a câmara deve ter uma palavra a dizer em relação ao seu funcionamento e não o poder governamental como acontece actualmente.
Moderado por Paula Moura Pinheiro, do painel «O futuro da cidade de Lisboa» constavam Helena Roseta, arquitecta, deputada do PS e presidente da Ordem dos Arquitectos, Pedro Santana Lopes, Presidente da Câmara de Lisboa, Gonçalo Ribeiro Telles, arquitecto paisagista, Manuel Graça Dias, arquitecto, e o Francisco Nunes Correia, engenheiro e coordenador nacional do Programa Polis.
O público não faltou ao encontro, enchendo por completo o auditório criado propositadamente para a edição deste ano da Feira.