Jorge Braga de Macedo escreveu uma carta à TSF, invocando o direito de resposta, na sequência de afirmações feitas no programa Governo Sombra
Carta à TSF escrita de Bruxelas em 9 de Fevereiro de 2012
Questões levantadas na imprensa sobre o envolvimento do IICT em determinados projectos expositivos vieram a reboque de mais uma pergunta ao Governo do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, à qual se deu resposta para a tutela, nos termos da lei. O incómodo que sobra para a instituição tem sido, até ao momento, o desconhecimento sobre a actividade que aqui se realiza e uma atitude difamatória sobre as opções tomadas relativas a projectos acolhidos no quadro de parcerias com universidades e outras partes interessadas. Os comentários proferidos por João Miguel Tavares, Pedro Mexia e Ricardo Araújo Pereira, no programa semanal da TSF Governo Sombra do passado dia 20 de Janeiro revelam esse desconhecimento de forma exuberante. Na transcrição que se segue, os conteúdos difamatórios vêm a negrito partindo do princípio consagrado que a graça pesada disfarçada de opinião não chega a calúnia (de gustibus non est disputandum)
«Tropical em Guimarães? Não haverá aí um problema de coordenadas e azimutes, João Miguel Tavares?
JMT - Não, é o calor humano desta plateia.... É isso e o Braga de Macedo.
Ah....está tropical por causa do antigo Ministro das Finanças?
Exacto...Esta semana nós todos ficámos a saber em primeiro lugar que ele era Presidente de uma coisa chamada "Instituto de Investigação Científica Tropical", que ninguém fazia ideia, deve ser um dos seus 49 empregos, ao qual agora juntou o Conselho de Supervisão da EDP. Mas o que é que se passa? Passa-se que se descobriu que o senhor tem uma filha, que é artista plástica, chamada Ana de Macedo, fica aqui um alerta para Guimarães capital da cultura, que provavelmente ainda não planearam uma exposição da Ana de Macedo, mas eu garanto-vos que vale imenso a pena, as imagens que eu vi na net são coisas extraordinárias, são assim umas espécies de recortes e plástico, e caras coladas em cima de imagens, umas coisas que a gente faz mais ou menos no Photoshop em 25 minutos... E então essa senhora, independentemente do seu talento como artista plástica fez duas exposições em dois anos patrocinadas por quem? Pelo Instituto de Investigação Científica Tropical, que por acaso é presidido pelo pai da senhora. Uma dessas exposições tinha como tema "Jorge Borges de Macedo" - o avô da artista e pai do presidente da Instituição pública que patrocinou a iniciativa. E um conhecido tropicalista! É ele e o Caetano Veloso e o Gilberto Gil, famosos tropicalistas e portanto mereciam uma exposição. A exposição que Ana de Macedo fez em Julho e que esteve na base desta notícia, porque alguém em Maputo, imaginem, não gostou dela, porque apesar de tudo e ainda por cima parece que era bastante preconceituosazinha e fazia umas considerações meio colonialistas mas chamava-se "Caras e Citações - uma interpretação estética sobre universidade, cultura e desenvolvimento". Hum...eu acho que vale a pena os responsáveis de Guimarães apontarem isto. E portanto, ora, o que é que é mais estranho? É ela ser filha do presidente ou então uma instituição que é dedicada á investigação científica andar a patrocinar exposições...ainda que se fosse boa, mas por mais foleiras que sejam, e são muito foleiras. Ora ainda por cima o instituto respondeu e disse que não demos qualquer apoio contrário à lei ou à ética. Ora uma pessoa abre a página do Instituto de Investigação Científica Tropical e imaginem o que lá diz da sua missão? Que a sua missão é a Investigação Científica Tropical, que é uma coisa super surpreendente.
Isto também o faz sentir tropical, Pedro Mexia?
PM - Essa expressão é muito curioso, porque é uma expressão que pode ter tido sido interessante e ter tido alguma pertinência mas eu diria que hoje a expressão "Investigação Tropical" é uma maneira sofisticada de dizer que se foi de férias... "tou a fazer Investigação Tropical", e portanto não me parece que seja... Agora há um argumento que está a ser muito utilizado, foi utilizado na EDP nomeadamente, e que é: as pessoas não podem ser penalizadas por serem familiares. Ora, essa frase que parece fazer sentido, não faz sentido nenhum. As pessoas têm que ser penalizadas no sentido em que é normal que certas pessoas que estejam próximas de quem atribui subsídios ou outro tipo de benefícios não esteja no mesmo plano, tal como não está no mesmo plano num tribunal um familiar próximo quando o seu testemunho tem um valor diferente.
Há um mínimo de decoro não?
Há um mínimo de pudor. Não se trata de descriminação mas de pudor, que os cargos, os governantes e as pessoas em cargos públicos têm que demonstrar.
Valerá a pena recordar neste contexto, Ricardo Araújo Pereira, que Braga de Macedo quando foi Ministro era conhecido pela alcunha de adiantado mental?
RAP - Eu acho que isso vale sempre a pena recordar, em qualquer contexto, eu vi as fotografias desta exposição que foi patrocinada para ser exibida em Moçambique, essas vi, tenho pena de não ter visto a exposição eu a filha fez sobre o avô patrocinada pelo pai, que parece um daqueles crimes do CSI não é? Em que há DNA por todo o lado, todo igual, mas eu compreendo Braga de Macedo...
Mas pode ser que numa próxima factura da EDP comece a vir umas imagens de Ana de Macedo .
Sim, vem lá uma alínea para isso. Mas eu compreendo Braga de Macedo porque eu também tenho filhas e elas também fazem colagens, algumas melhores do que essas, e as miúdas chegam-me a casa com aquilo e eu sou tomado de uma vontade súbita que o povo Moçambicano possa ver a obra delas mas infelizmente não presido a nenhum instituto e portanto quem perde são os Moçambicanos.
Está esclarecido o tropicalismo do João Miguel Tavares»
Numa carta endereçada à Directora do Público em 31 de Janeiro, que aguarda publicação nos termos da lei de imprensa, pedi contenção na calúnia - mesmo que achasse divertidos os conteúdos publicados no Suplemento "Inimigo Público", do dia 20 de Janeiro, porquanto confundem o IICT com o vizinho Instituto de Higiene e Medicina Tropical, uma sina de décadas. Na verdade costumo dizer que no IICT se faz "everything but health" (tudo menos saúde) por isso não haveria hipótese de se descobrir uma vacina contra a malária no IICT, como se sugere na peça humorística.
A carta cita ainda um artigo de opinião (?) de José Diogo Quintela, no Público de 29 de Janeiro, O macedato, que reproduzia com as calúnias a negrito "(...) entremeadas de alusões pífias à cultura nacional: "Agora, em vez do canto na secretária da minha mãe, precisou de residência artística (uma sala nas instalações do IICT). E em vez de ter o seu desenho mostrado aos colegas de serviço (antes de arquivado numa gaveta e, posteriormente, no lixo), viu o seu projecto apresentado em exposições patrocinadas pelo IICT, uma delas em Maputo. O progresso da função pública portuguesa incluiu esta modernização ao nível do nepotismo. Um upgrade da cunha." Seguem-se. trocadilhos do mesmo teor acerca do mecenato e da minha profissão e cidadania "Ministério da Cultura...que Braga de Macedo como bom economista mostrou ser redundante".
A carta conclui exortando "falem do IICT sabendo o que lá se faz mas deixem a minha família em paz". Sem querer ser pedante, a réplica ao de gustibus citado acima poderia ser a carta de alforia do comediante castigat ridendo mores. Mas aqui não colhe porque para castigar convém conhecer. Caso contrário não se ri e a graça ela própria torna-se passível de castigo em nome dos costumes que queria fustigar.
Jorge Braga de Macedo