O Presidente da República exortou hoje «todos os portugueses» a corrigir a falta de informação e a desinformação que diz existir no estrangeiro sobre Portugal. Cavaco apelou à coesão nacional.
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«Todos os portugueses e não apenas os agentes políticos têm o dever de mostrar ao mundo o valor do seu país. Neste 25 de Abril, a minha intervenção tem um objetivo preciso e uma razão prática: exortar os nossos concidadãos a corrigir a falta de informação ou até a desinformação que subsiste no estrangeiro sobre o país que somos», apelou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, numa intervenção na sessão solene do 25 de Abril, na Assembleia da República.
Se essa tarefa for feita com sucesso, sublinhou, estar-se-á a contribuir para melhorar as condições da economia e da criação de emprego.
Num discurso em que começou por lembrar a revolução feita há 38 anos para construir um regime democrático e saudou aqueles que tiveram «a coragem» para operar essa mudança e «os artesãos da nossa democracia», Cavaco Silva recordou ainda o caminho difícil e o «trabalho árduo» desenvolvido nos anos seguintes para demonstrar internacionalmente a credibilidade de Portugal como Estado soberano.
«O regime democrático encontra-se atualmente consolidado porque o bom senso prevaleceu sobre o aventureirismo, porque o sentido de responsabilidade foi mais forte que as tentações extremistas», notou Cavaco Silva.
Agora, continuou, passadas mais de três décadas do 25 de Abril, os portugueses são de novo chamados «a explicar Portugal ao mundo» e a valorizar o que existe de bom, com as exportações, o turismo e o investimento privado produtivo a constituírem os elementos capazes para contribuir positivamente para a recuperação da economia e para a criação de emprego.
Contudo, embora o nível das exportações e do investimento privado estejam dependentes de múltiplos fatores, a imagem e a credibilidade de Portugal são dois desses elementos, assinalou o Presidente da República, sublinhando que através de «uma perceção externa fidedigna e positiva de Portugal» se conseguirá vender mais bens e serviços ao estrangeiro e a melhores preços e atrair investimento externo e obter financiamento a taxas mais favoráveis.
«Muito se tem dito e escrito no estrangeiro sobre o nosso país que não tem a mínima correspondência com a realidade», salientou o chefe de Estado, considerando que algumas vezes existe «a intenção deliberada» de dar um retrato negativo de Portugal ou de evidenciar apenas uma parte da realidade.
Mas, pior do que isso, frisou Cavaco Silva, «essa perceção negativa é veiculada internamente» e constitui um fator de desmobilização dos cidadãos, ao mesmo tempo que prejudica a expetativa dos agentes económicos.
«O 25 de Abril dos nossos dias está também em mostrar ao mundo o muito de positivo que o país tem e o respeito que merecemos das outras nações. Esta é, repito, uma tarefa para a qual são convocados todos os cidadãos», disse, considerando que para além da ação dos políticos, importa consolidar a projeção externa de Portugal, vencer preconceitos, ideias feitas e a falta de informação isenta que existe sobre Portugal.
Lembrando que enquanto Presidente da República tem procurado contribuir para a imagem de um Portugal credível, Cavaco Silva desafiou, assim, todos os portugueses a juntarem a sua voz à do chefe de Estado, à dos agentes políticos e dos diplomatas.
Contudo, ressalvou, isto não significa que se alimente «um nacionalismo passadista, construído a partir do mito e da imaginação, nem de regressar a um discurso típico do regime deposto a 25 de Abril».
«Não temos de recorrer à ficção, nem temos de criar uma imagem ilusória da realidade portuguesa», notou Cavaco Silva, que no passado já criticou a tendência de alguns políticos de recorrer à ilusão e ocultar a realidade.
A ciência, a cultura, a «relação exemplar» com os países de língua portuguesa, o profissionalismo demonstrado pelas Forças Armadas nas missões de paz e humanitárias e as funções internacionais de grande relevo ocupadas por portugueses, foram bons exemplos citados por Cavaco Silva.