O Governo e a União Europeia têm silenciado o impacto da crise sobre a prestação de cuidados e a saúde aos portugueses. Esta é a principal conclusão do relatório de primavera, divulgado hoje , pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde.
No documento, intitulado "Saúde: síndrome de negação", são analisados os últimos quatro anos, nomeadamente o período do programa de ajustamento, e conclui-se que existem sinais de que as autoridades nacionais e internacionais têm feito um «esforço por negar a evidência do impacto da crise sobre a saúde das pessoas, evitando a discussão e adoção de medidas de prevenção», «esquecendo que do outro lado estão pessoas em sofrimento e com desenvolvimento cada vez mais hipotecado».
A título de exemplo, o documento aponta o impacto da crise na saúde mental dos portugueses que levou a um aumento da taxa de incidência de depressão, a aumentos do consumo de álcool e cannabis por estudantes do terceiro ciclo e secundário.
Relativamente ao suicídio, o observatório destaca como positiva a elaboração do Plano Nacional de Prevenção a ser implementado entre 2013- 2017, chamando, no entanto, à atenção que ainda se está a aguardar a sua passagem ao terreno.
As falhas que têm, segundo o documento, sido silenciadas, estendem-se também aos programas de intervenção, nomeadamente em relação aos estilos de vida. Programas que existem, mas que não estão a ser implementados. Este é o caso do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável.
A este nível, sublinha-se a eventualidade da quebra no consumo de carne poder estar relacionada, não com uma lógica de alimentação saudável, mas sim com o facto de as pessoas não terem dinheiro para a comprar.
Também na política do medicamento são apontados problemas. Apesar de se sublinhar a importância dos genéricos e a diminuição da despesa pública com medicamentos, chama-se a atenção para as dificuldades ao nivel da sua distribuição e acesso dos cidadãos; neste último caso, por falta de recursos financeiros.
O relatório refere ainda que, nos últimos anos, as políticas de saúde desinvestiram na descentralização do Serviço Nacional de Saúde interrompendo e até fazendo fazendo regredir este processo. O que se tem verificado, diz o documento, é uma concentração como são exemplos a lei dos compromissos, a burocratização dos processos de aquisição e contratação factores que , pode ler-se , desmotivam , e desresponsabilizam as lideranças na área da saúde .
Também ao nível dos cuidados primários são apontados problemas nomeadamente a discrepância entre o o discurso politico, que diz apostar nestes serviços, mas que na prática não o faz uma vez que são conhecidas as dificuldades diárias dos profissionais que acabam por se refletir na prestação de cuidados como são exemplos a insuficiência dos sistemas de informação , a falta de recursos humanos, a fragilidade das unidades da administração central dos sistemas de saúde, dos recursos de assistência partilhados e das equipas médicas de cuidados continuados integrados.
O Observatório recorre ainda à síntese de execução orçamental de Abril de 2014 para perguntar porque é que a dívida da saúde continua a aumentar se todas as medidas tomadas pelo tinham e têm como prioridade o equilibrio financeiro do sector .