Acompanhar o percurso de Fernando Gomes é fazer uma viagem com partida de Vila do Conde e desembarque no Terreiro do Paço, que ainda não se sabe se é estação terminal. Com longas paragens no Porto e em Estrasburgo. Uma coisa é certa: este homem é do norte. Hoje passa pelo Forum TSF.
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Ao contrário do que pensam muitos dos que associam de imediato o nome de Fernando Gomes à Cidade Invicta, Vila do Conde é a terra-natal do actual ministro da Administração Interna. A 13 de Abril de 1946, nasce Fernando Manuel dos Santos Gomes, filho de pai alfaiate e mãe modista.
Esta data marca o começo de uma vida onde iria assumir vários papéis. Foi autarca, deputado na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, secretário de Estado e agora ministro.
Até uma passagem pelo mundo da música tem lugar na história de Fernando Gomes, que criou o grupo de rock com o aristocrático nome de «Os Kondes», banda que animava os bailes nos anos 60. Foi estudar para o Porto, onde tirou a licenciatura em Economia. Depois de um estágio na Bélgica, em 1971, ingressou na área de administração de empresas do sector privado.
O 25 de Abril sai à rua estava Fernando Gomes a cumprir o serviço militar na Póvoa. Nesse mesmo ano, filia-se no Partido Socialista e é convidado a formar a comissão administrativa para a Câmara de Vila do Conde. Em 1976 é eleito presidente deste município onde permanece até 1981, naquela que foi a sua primeira experiência autárquica.
A partir de 1981 deixa Vila do Conde e dedica-se ao trabalho parlamentar como deputado pelo círculo eleitoral do Porto. Apenas dois anos mais tarde, com a ascensão do PS ao poder, Fernando Gomes é convidado para integrar o novo governo como Secretário de Estado do Planeamento, oferta que recusa. Volta a ser desafiado para fazer parte da equipa no poder para assumir a Secretaria de Estado da Habitação e Urbanismo, convite que aceita.
Fernando Gomes senta-se pela primeira vez na cadeira do poder nacional no IX Governo Constitucional, liderado por Mário Soares. Foi o responsável pela reforma do sector da habitação depois da crise económico-financeira de 1983/84 e por um conjunto de legislação sobre loteamentos urbanos, reabilitação habitacional e arrendamento urbano, entre outras medidas.
O PS perde as eleições legislativas em 1985, mas Fernando Gomes volta a ser eleito para a Assembleia da República. Em vésperas de entrada na União Europeia, o PS traçou uma lista de seis deputados provisórios para o Parlamento Europeu. Entre os seis está o nome de Fernando Gomes. Desde 1 de Janeiro de 1986, o antigo secretário de Estado da Habitação e Urbanismo passa a deputado europeu.
Foi membro titular da Comissão Política Regional e Ordenamento do Território, membro da Comissão das Relações Económicas Externas e responsável pelos relatórios sobre a reforma dos fundos estruturais e sobre a dimensão social do mercado interno. Até Julho de 1989 desempenhava também as funções de presidente da Comissão dos Assuntos Sociais Europeus.
Uma das primeiras tarefas de Fernando Gomes como eurodeputado foi pedir uma lista com as datas de nascimento de comissários, deputados e outros funcionários da União Europeia. Os nomes da lista de Fernando Gomes passaram a partir daí a receber uma lembrança de aniversário. Nada mais natural do que uma garrafa de Porto para os senhores e flores para as senhoras.
Apesar das viagens a Estrasburgo, que a oposição acusava de serem escassas, Fernando Gomes nunca esqueceu a sua Cidade Invicta. É eleito presidente da Câmara Municipal do Porto em 1989, onde fica durante dez anos, até Outubro de 1999.
Tornou a autarquia portuense num bastião do partido socialista. Despediu-se da Câmara Municipal do Porto a 25 de Outubro de 1999, numa cerimónia na Campanhã, onde passou o testemunho a Nuno Cardoso.
Um dos casos que mais tinta fez correr nos jornais com o nome de Fernando Gomes foi o caso da acumulação de funções de presidente da Câmara do Porto e de deputado europeu. Em 1990, o Partido Social Democrata propõe uma alteração à Lei de Incompatibilidades que proíbe a acumulação de cargos de autarca e de deputado do Parlamento Europeu. Uma lei com efeitos retroactivos nem cenário onde existia apenas um homem nessa situação: Fernando Gomes.
O autarca portuense não aceita a imposição e recusa-se a abandonar Estrasburgo. Acusa o PSD de ter feito a lei «de propósito para um homem» e garante que não arreda pé do Parlamento Europeu enquanto estivessem na mesa de negociações «projectos importantes para a área do Porto».
Classificou lei de «terrorista e persecutória» mas com a aproximação da entrada em vigor da lei e a polémica a aumentar, acaba por sofrer fortes pressões de fora e de dentro do seu partido para acatar a decisão e não incorrer em desobediência à lei.
Este processo acaba com a decisão do Tribunal Constitucional, onde, em Novembro de 1992 o tribunal considera inconstitucional a aplicação da lei a autarcas ou deputados europeus eleitos antes da sua entrada em vigor.
Fernando Gomes acaba por renunciar formalmente do cargo de deputado europeu em Janeiro de 1993, depois desta apreciação do Tribunal que o autarca considerou «uma bofetada de luva branca no governo e no PSD».
Volta e meia, com eleições ou reformas à vista o nome de Fernando Gomes vinha à baila na comunicação social. Foi um provável para as presidenciais de 1996 e um ministeriável aquando do primeiro executivo socialista em 1995 depois do reinado laranja que durou uma década.
Comissário europeu ou dirigente regional, nas especulações pré-referendo sobre a regionalização, foram outros dos cargos virtuais do actual ministro da Administração Interna. Fernando Gomes foi aliás um dos arautos da batalha da regionalização.
Fernando Gomes integra o elenco do segundo governo do partido Socialista saído das eleições legislativas de 1999. Assume desde então a pasta da Administração Interna que acumula com o cargo de ministro-adjunto, com a tutela da Administração Local e do Desporto.