Amadeo de Souza-Cardoso decidiu aos 19 anos partir para Paris. É lá que se faz pintor e que vive toda a agitação artística que, no início do século passado, fazia da cidade luz o centro da cultura.
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Quando seis anos depois, em 1912, regressa a Portugal, Amadeo já tinha construído grande parte duma obra singular e única, depois de se rodear de amigos famosos nas artes, como Brancusi ou Mogdiliani. Amadeo nunca mais voltou a França. A gripe espanhola roubou-lhe a vida aos 30 anos.
Mais de 100 anos depois, a obra do artista faz-lhe justiça, e o pintor "regressa" a Paris com uma exposição num sítio emblemático, o Grand Palais.
Fica no centro de Paris. O Grand Palais é, diz a comissária da mostra, Helena de Freitas, o lugar ideal para apresentar ao mundo um dos segredos mais bem guardados da história dos últimos 100 anos da pintura mundial.
"E é um palco de apresentação de artistas consagrados, internacionais. Nestas mesmas salas foram apresentados trabalhos de Velásquez e Picasso. Foram as exposições anteriores. É um lugar importante". Helena de Freitas acrescenta que existe nesta exposição "obra suficiente para o considerar um artista com lugar importante na história da arte internacional".
Muitos dos seus trabalhos viram a luz do dia em Paris, onde o pintor foi muito influenciado pela agitação citadina da época. "O mundo de uma grande cidade, o cosmopolitismo de uma grande cidade foi muito importante para o desenvolvimento do seu trabalho. Aliás, há um processo muito curioso de fusão entre a recuperação de uma iconografia popular e muitos sinais desse cosmopolitismo que estão presentes nas suas obras. É só olhar para elas e conseguimos perceber", diz a comissária.
O Louvre, as bibliotecas ou museus eram lugares de vistas regulares de Amadeo. Mas onde o amarantino se sentia melhor era nas tertúlias e exposições caseiras que foi fazendo nos diversos ateliês por onde passou, principalmente em Montparnasse, com amigos como o casal Delaunay, Brancusi ou Mogdiliani. Sítios com ideias que contribuíram muito para a singularidade de Amadeo, conclui Helena de Freitas.
"Mais do que influências, houve trocas. Os artistas olham para as obras uns dos outros e aqui sente-se isso como se sente nas obras de outros artistas de vanguarda que o acompanharam. Há diálogos entre eles, os artistas vivem em conjunto. Não é um processo de mimetismo mas uma cultura visual muito vasta e uma necessidade de a transformar em função de um vocabulário que ele (Amadeo) deseja seja próprio e inconfundível".
O inconfundível Amadeo de Manhufe regressa a Paris para se mostrar definitivamente ao mundo.
A TSF esteve em Paris a convite da Câmara Municipal de Amarante.