O trabalho vencedor retrata os "talibés", as crianças que são escravizadas e torturadas nas escolas islâmicas do Senegal e Guiné-Bissau e já foi premiado pelo World Press Photo.
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O fotojornalista Mário Cruz conquistou este sábado o principal galardão do Prémio de Fotojornalismo Estação Imagem Viana do Castelo, com uma reportagem intitulada "Talibés, escravos contemporâneos".
Para o presidente do júri internacional, Aidan Sullivan o trabalho de Mário Cruz é composto por "imagens poderosas e que de uma forma imediata nos colocam perante uma história impressionante".
Mário Cruz esteve em maio e junho de 2014 no Senegal e na Guiné-Bissau e tinha já sido distinguido no World Press Foto com uma reportagem enquadrada no mesmo trabalho.
O prémio, que tem como parceiro principal a Câmara Municipal de Viana do Castelo, destina-se a premiar reportagens de fotógrafos portugueses, dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), e da Galiza, ou feitas por estrangeiros nestes territórios.
Na categoria foto do ano, a novidade da sétima edição do Prémio Estação Imagem, o vencedor foi o galego Gabriel Tizón, captada no campo de Moria, na Ilha de Lesbos, na Grécia.
O trabalho, segundo a organização, retrata o "drama das famílias que desembarcam em desespero nas costas do Mediterrâneo, fugindo aos horrores da guerra e á procura de um futuro mais seguro para as suas famílias".
Gabriel Tizón conquistou ainda mais dois prémios, ao vencer na categoria de Desporto e ao alcançar uma menção honrosa na secção Vida Quotidiana.
Leonel de Castro, do Jornal de Notícias, venceu nas categorias de Artes e Espetáculos e Noroeste Peninsular com vista ao aprofundamento das ligações entre o Norte de Portugal e a Galiza, este ano tendo como tema O Vinho e a Vinha.
O júri da sétima edição do prémio atribuiu ainda com duas distinções os fotojornalistas José Carlos Carvalho, o prémio Notícias e menção honrosa em Assuntos Quotidianos, e Bruno Colaço, com a Série Retratos e menção honrosa em Foto do Ano.
Nas restantes categorias, os prémios foram atribuídos a Nuno Fox, na categoria Assuntos Contemporâneos, Gonçalo Delgado, em Vida Quotidiana e Vlad Sokhin no Ambiente.
O júri decidiu atribuir também uma menção honrosa, na categoria Ambiente, premiando o trabalho do fotojornalista galego Pedro Armestre.
Este ano, a Bolsa Estação Imagem foi atribuída a Bruno Simões Castanheira, o vencedor da edição 2015. Bruno Castelo foi escolhido entre a dezena de candidatos que se apresentação aquela bolsa com o trabalho "Lugares de silêncio-Aldeias e Sítios do Parque Nacional da Peneda-Gerês".
O trabalho vai ser divulgado numa exposição e num livro a apresentar em 2017, no dia do anúncio dos vencedores do Prémio Estação Imagem.
Este ano, o Estação Imagem registou a participação de 200 fotojornalistas, o que, segundo a organização, representa "a quase totalidade dos profissionais portugueses da área", e que apresentaram a concurso 336 reportagens e mais cerca de uma centena de candidaturas à Bolsa e à Foto do Ano.
O programa do prémio integra ainda a exposição "Americanos", do norte-americano Christopher Morris, que está patente até ao final de maio na capital do Alto Minho.
A exposição "Filigrana - A tradição ainda é o que era", de António Pedro Santos, resultante do projeto vencedor da Bolsa 2015, está também patente até final do próximo mês no espaço dos antigos Paços do Concelho.
Além de Aidan Sullivan, vice-presidente da Getty Images e presidente do júri do World Press Photo 2012, integrou ainda João Silva, fotojornalista do jornal New-York Times, Cheryl Newman, diretora de fotografia da Telegraph Magazine, e Laurent Rebours, chefe de fotografia da agência Associated Press em Paris.
Mário Cruz espera dar visibilidade às crianças escravizadas
Mário Cruz acredita que o seu trabalho vai dar "visibilidade" à realidade das crianças escravizadas no Senegal e Guiné-Bissau.
"Tenho a certeza que esta distinção contribuirá para dar visibilidade a estas crianças que já há demasiado tempo são ignoradas, não só pela sociedade senegalesa mas por toda a comunidade internacional", afirmou o fotojornalista, de 28 anos.
Mário Cruz falava à Lusa no final da cerimónia de atribuição dos prémios da sétima edição do prémio que decorreu hoje no teatro municipal Sá de Miranda, em Viana do Castelo.
A ideia de realizar o trabalho surgiu em 2009 quando estava na Guiné-Bissau a cobrir as eleições presidências.
Na altura, ouviu "histórias de crianças que estavam a desaparecer e a serem levadas para o Senegal para serem escravas". Investigou e, entre maio e junho de 2014, "tirou licença sem vencimento" para poder "documentar essa realidade".
Afirmou que "graças a esta, e a outras distinções o governo do senegalês já assumiu o compromisso de realizar uma campanha que vai percorrer o país todo para alertar para o que se está a passar".
Na categoria foto do ano, a novidade da sétima edição do Prémio Estação Imagem, o vencedor foi o galego Gabriel Tizón, com uma fotografia captada no campo de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia.
"Em termos pessoais este prémio é importante para me dar ânimo para continuar a trabalhar em tempos difíceis. Também é importante pelo tema, pelas pessoas que fotografei para que seja dada a conhecer a sua situação", sustentou à Lusa o fotógrafo galego.