A partir do acrónimo PIGS criado para identificar os países da Europa do Sul, um grupo de artistas plásticos de Portugal, Itália, Grécia e Espanha debruçou-se sobre o tema da crise económica.
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A curadora Blanca de la Torre ainda está a acabar de montar a exposição na Galeria Municipal do Porto. PIGS: Portugal, Itália, Grécia e Espanha. O acrónimo incorporado no léxico noticioso pelo Finantial Times dá título à exposição que pega na crise e nos efeitos da austeridade: "É como se merecessemos essa austeridade por termos vivido em opulência, como se fosse um castigo merecido, mas... não sei... eu nunca vi essa opulência".
Os países do sul que são olhados como os preguiçosos que só gostam de "apanhar sol" e "dormir a sesta". Como se os povos merecessem o que estão a pagar, diz Blanca de la Torre. E no meio os responsáveis políticos.
Logo à entrada, a obra do italiano Danilo Correale. As palmas de seis mãos e uma descrição ao lado. São mãos de deputados. "Ele entrou no Congresso como se fosse jornalista", explica Blanca de la Torre, "e pediu a seis deputados que mostrassem a palma da mão para ele fotografar. Depois, com essas fotos, ele foi a um quiromante indiano que lê a mão e adivinha o futuro, muito famoso em Itália, para que ele dissesse que tipo de pessoa eram esses deputados e nenhuma das descrições é boa".
Logo a seguir, a portuguesa Carla Filipe reinventa capas de jornais do início do século, retomando a caricatura política: "O que ela faz é retomar a tradição da crítica do Zé Povinho e adaptá-la ao momento atual. Aqui o Zé Povinho relaciona-se com personagens atuais, como Angela Merkel e Cavaco Silva".
Há também um vídeo do espanhol Carlos Aires, em que dois polícias bailam um tango no Museu Cerralbo em Madrid, ao som de uma versão de Sweet Dreams.
Guilherme Blanc, adjunto da cultura da Câmara do Porto, que participou na produção deste PIGS, sublinha que este projeto tem também um lado auto-crítico. "Há muito humor, algum espírito de compreensão, orgulho cultural e de crítica agressiva ao mesmo tempo. É interessante este jogo inconclusivo de uma relação de afeto e, ao mesmo tempo, de ódio dos artistas em relação ao país de origem".
Amor-ódio, crítica política, económica, social. PIGS que não são porcos. A arte de autores portugueses, italianos, gregos e espanhóis, de olhos posto no centro da crise que começou por ser financeira.