O FMI está mais pessimista quanto à economia portuguesa e admite que "provavelmente serão precisas mais medidas" para apoiar a restrição da despesa e garantir o objetivo orçamental deste ano.
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O Fundo Monetário Internacional (FMI) está mais pessimista em relação à economia portuguesa, esperando agora que o PIB cresça 1,0% este ano, abaixo do que previa em abril e do que ainda antecipa o Governo.
Num comunicado divulgado esta quinta-feira, após a conclusão da quarta missão de monitorização pós-programa (e também no âmbito do artigo V), o FMI reviu em baixa as previsões de crescimento económico para 1,0%, menos 0,4 pontos percentuais que os 1,4% previstos em abril no 'World Economic Outlook'.
A instituição liderada por Christine Lagarde justifica esta revisão em baixa com o abrandamento da economia portuguesa verificado desde meados do ano passado e com o aumento da incerteza a nível externo.
"Embora o consumo privado continue a crescer de forma robusta, o investimento e as exportações enfraqueceram, refletindo um aumento da incerteza e uma quebra acentuada em alguns mercados para os produtos portugueses. Em resultado, o PIB [Produto Interno Bruto] em termos reais caiu para 0,9% no primeiro trimestre de 2016 (em termos homólogos) e projetamos que cresça 1,0% no conjunto do ano", afirma a equipa do FMI.
Os técnicos do Fundo reviram também em baixa as previsões no médio prazo, esperando agora que a economia portuguesa avance 1,1% em 2017, quando em abril estimavam que o PIB crescesse 1,3% nesse ano, admitindo que o cenário se alterou nos últimos dois meses.
Mais desemprego
No comunicado divulgado hoje, o Fundo também reviu ligeiramente em alta a taxa de desemprego deste ano e do próximo, de 11,6% para 11,8% e de 11,1% para 11,3%, respetivamente.
Também nesse sentido, a instituição sediada em Washington defende que avançar com as reformas estruturais "é essencial para estimular a convergência de salários e a criação de trabalho, sobretudo dado o crescimento de desafios demográficos".
Considerando que Portugal alcançou "avanços significativos" durante o programa de ajustamento, "melhorando a flexibilidade e competitividade do mercado de trabalho", a equipa do FMI defende que "é importante que esses progressos sejam levados para a frente".
"Uma alteração na direção das reformas pode aumentar a incerteza que já está a prejudicar o investimento e a diminuir as perspetivas de crescimento, emprego e rendimento", afirma. Nesse sentido, os técnicos consideram que a reversão das políticas do anterior Governo pode ter "consequências adversas na competitividade das empresas portuguesas".
Mais défice
O FMI reviu em alta a previsão para o défice de Portugal este ano, passando de 2,9% para 3,0%, acima dos 2,2% projetados pelo Governo.
Alertando para "riscos negativos", o FMI admite que "provavelmente serão precisas mais medidas para apoiar a restrição da despesa para garantir que o objetivo orçamental deste ano, de 2,2% do PIB [Produto Interno Bruto], é alcançado. Na ausência de passos adicionais, o FMI projeta num défice próximo dos 3% do PIB", lê-se no comunicado de conclusão da quarta missão pós-programa e dos trabalhos ao abrigo do Artigo IV.
O Fundo saúda o compromisso orçamental do Governo para este ano, que continua a ser uma redução do défice para os 2,2%, mas alerta para riscos à angariação de receitas "num contexto de fraco crescimento", considerando que "podem surgir pressões na despesa na segunda metade do ano".
A equipa de Subir Lall, que lidera a missão do Fundo em Portugal, entende que "é necessário um caminho credível de consolidação orçamental no médio prazo para colocar a dívida pública numa trajetória firme de queda", o que "vai exigir objetivos realistas que sejam apoiados por medidas concretas".
Sublinhando que o Governo de António Costa delineou "objetivos ambiciosos" para o médio prazo no Programa de Estabilidade para 2016 -- 2020, o FMI disse no entanto que "falta especificidade" a estas medidas, "o que iria permitir uma avaliação da sua exequibilidade" e deixou uma recomendação.
Para o FMI, também "são precisos esforços para aprofundar a implementação da nova Lei de Enquadramento Orçamental, que pretende melhorar a gestão do orçamento e a transparência".
Outro aspeto apontado pela instituição liderada por Christine Lagarde prende-se com a necessidade de "um sistema fiscal mais estável e previsível", que poderia "ajudar a promover a confiança e a encorajar o investimento privado".