
Judith Menezes e Sousa / TSF
Tudo depende da participação eleitoral que os votantes em Emmanuel Macron demonstrarem. Se Marine conseguir chegar aos 44 por cento, Serge Galam diz à TSF, que "a hipótese Le Pen torna-se realista"
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O que acontece quando as leis da física são aplicadas aos estudos eleitorais?
No caso do físico francês Serge Galam já foram duas as previsões que bateram certo quando se esperava um desfecho diferente.
Serge Galam previu a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e com dez anos de antecipação avisou que um referendo sobre a União Europeia ia resultar num Brexit.
Agora, ao analisar a forma como têm evoluído as proporções ao longo dos dias, o físico acredita que será difícil Marine Le Pen alcançar os 50 por cento que a podiam levar ao Eliseu.
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Esse cenário pode acontecer se a uma "abstenção não assumida" se juntar a abstenção reivindicada por quem não se opõe à Frente Nacional mas também não consegue votar em Emmanuel Macron..
São conceitos definidos pelo físico Serge Galam, que a TSF encontrou no gabinete cheio de fórmulas, espalhadas em folhas dispersas.
O cenário francês comporta ainda outro detalhe : a "frente republicana" que se ergueu, em 2002, para travar Le Pen , o pai, na eleição contra Jacques Chirac.
Desde então, Serge Galam nota um enfraquecimento nesta frente republicana, com
eleitores a passarem pelo dilema individual de serem contra a Frente Nacional mas terem aversão a Macron o que pode resultar naquilo a que o físico chama uma "abstenção não assumida".
"Um eleitor que seja sinceramente contra a Frente Nacional (FN) mas que seja também sinceramente empenhado contra a globalização e o liberalismo, como no caso de Macron, dirá: "Custa-me votar em Macron, mas tenho que o fazer para travar a FN". Nós temos uma expressão aqui em França, que diz que, para bloquear a frente nacional, é preciso engolir um remédio muito amargo, e por isso tudo, no dia das eleições, pode servir para se esquecer de ir votar ...é por isso que lhe chamo uma abstenção não assumida"
Para complicar as contas, de acordo com a fórmula de Serge Galam, sendo o eleitorado de Marine Le Pen mais comprometido em ir votar, se a candidata atingir os 44 por cento de votos, passa a ser crucial que Emmanuel Macron consiga segurar uma forte participação eleitoral.
"Pode dizer-se que enquanto Marine Le Pen estiver nos 42, 43 por cento, é pouco provável que ganhe porque é necessário um teto de participação para Macron relativamente baixo. Mas se Le Pen atingir os 44 por cento, estamos num teto de 70 por cento de participação necessária para Macron. e aí, começa a hipótese de eleição de Le Pen começa a ficar realista", diz Serge Galam.
A juntara tudo isto também o facto de, à esquerda, Jean Luc Melènchon não ter feito um apelo direto ao voto em Macron e ter surgido, na noite da primeira volta, uma hastag- a favor da abstenção. Chama-se "7 de maio, sem mim" e para o físico que trabalha como investigador na CEVIPOV trata-se do "surgimento, pela primeira vez,de uma abstenção reivindicada dos que dizem "eu não quero escolher", e isto vem dar força à minha tese sobre a "abstenção não assumida", porque fica mais fácil "esquecermo-nos de votar, quando outros dizem abertamente "nós não queremos votar".
A grande promessa de campanha de Le Pen é referendar a presença francesa no Euro, e embora seja voz comum que os franceses estão de alma e coração com a moeda única, Serge Galam repete o alerta deixado há dez anos quando adivinhou o desfecho do Brexit- "quando a maioria não se decide, vence o lado mais radical"."
Uma imensa maioria dos franceses dizem nas sondagens que estão empenhados em pertencer ao euro, penso que são cerca 78 por cento, mas se for convocado um referendo e se se abrir um longo debate pode acontecer como nos Estados Unidos: quando se abre a discussão, e o grupo chega a um impasse, sem conseguir chegar a uma resposta racional, vence o lado do preconceito".