
Christian Hartmann/Reuters
Tema recorrente nos últimos anos em discussões sobre a indústria musical, o fim do streaming gratuito como o conhecemos - oferecido por serviços com o Spotify - parece cada vez mais próximo.
Algumas notícias publicadas nos últimos dias sugerem que o Spotify estudou a possibilidade de disponibilizar A Moon Shaped Pool, o último álbum dos Radiohead, na mesma altura em que o Apple Music e o TIDAL o fizeram - na data de lançamento. O serviço de streaming sueco, que conta com mais de 30 milhões de utilizadores, esteve prestes a ceder a uma exigência que tem sido feita por vários artistas: dar mais música a quem paga subscrição do que a quem utiliza o serviço gratuitamente. Mas ainda não foi desta - o álbum dos Radiohead foi disponibilizado a 17 de junho, data em que as versões em CD e vinil também chegaram às lojas - e o Spotify mantém-se fiel à lógica que tem defendido publicamente: oferecer o mesmo conteúdo a todos os seus utilizadores.
Estes pedidos recorrentes de artistas - dos Radiohead a Taylor Swift - não são, no geral, gestos particularmente altruístas. Um relatório da associação que representa grande parte das principais editoras de música nos Estados Unidos indica que o streaming foi responsável em 2015 por mais de um terço das receitas da indústria discográfica naquele país, mas que a vertente gratuita representou menos do que a venda de vinil. Ou seja, o streaming pago é muito mais benéfico para editoras e artistas.
O YouTube e o Spotify revolucionaram o consumo de música com o streaming gratuito tanto quanto a Apple uns anos antes com o iPod e a loja do iTunes. Mas agora os artistas pressionam o Spotify atrasando o lançamento de novos discos na plataforma. A indústria discográfica, por outro lado, queixa-se do pouco dinheiro que recebe de serviços de streaming gratuito quando comparado com a quantidade de música disponibilizada nesses mesmos serviços e pressiona Washington para tornar as leis mais punitivas para serviços que, como o YouTube, disponibilizam música carregada ilegalmente por utilizadores. Com a proliferação de lançamentos exclusivos no Apple Music (Taylor Swift e Drake, entre outros) e no TIDAL (Kanye West e Beyoncé, por exemplo), também alguns subscritores pagantes do Spotify começam a mostrar descontentamento com a indisponibilidade de grandes lançamentos no serviço.
Com o número de subscritores do Apple Music a crescer a um ritmo superior, a pressão para o Spotify deixar cair o modelo gratuito é cada vez mais intensa. Se a empresa sueca continuar a apresentar prejuízos anuais por não conseguir atrair anunciantes suficientes para colmatar o pagamento de royalties, é expectável que tenha de se focar no modelo pago para garantir que não perde a liderança para a Apple. O streaming grátis no YouTube, por outro lado, será provavelmente mais resistente às circunstâncias adversas, até porque o Google tem conseguido neutralizar as investidas da indústria discográfica em termos de legislação. Mas, apesar da sua ubiquidade e do catálogo semelhante ao dos restantes serviços, o YouTube continua a servir sobretudo para ouvir música de forma casual. Spotify, Apple Music e TIDAL são, nesta altura, as escolhas mais óbvias para quem tem uma relação mais intensa com a música. E só o Spotify pode ser (por agora) utilizado sem pagar. A questão é até quando.
* Editor do site strobe.pt