O segredo há muito que deixou de ser a alma do negócio, quando mete dinheiros públicos, como tem acontecido, o segredo devia causar-nos medo e obrigar-nos a exigir dos políticos total transparência.
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Não há, tenho a certeza, um único português que saiba quanto já pagou, em valor exacto, para salvar os bancos que ruíram, enquanto os políticos diziam coisas grandiloquentes e os reguladores viam passar navios. Os grandes negócios e a grande política têm uma coisa em comum, o segredo. No alto da sua importância, de quem tem o mundo para gerir, deve ser para nos proteger das chatices e não nos incomodar com miudezas que eles passam a vida a decidir, sem nos dizerem o que sabem.
Marcelo e Costa, de mãos dadas, a favor da intervenção no sistema financeiro, enquanto Passos está contra, para aparecer depois Salgueiro a dar-nos conta que a Comissão Europeia ligou, não nos disse a quem mas pressupomos que foi ao primeiro-ministro, para lhe dizer que o BCP também era para os espanhóis. E depois o La Caixa e a Isabel Santos, que o primeiro-ministro, num passe de mágica, tinha feito entenderem-se, afinal não se entendem. Esta história ainda não fez uma semana e já perdemos o fio à meada. Mas não se preocupem, está tudo bem. A alta política, só é alta se for feita em segredo. Não se preocupem, eles resolvem tudo.
Ficamos deslumbrados por ter o primeiro-ministro e o Presidente da República contra o líder da oposição e mal questionamos o que andam eles a fazer. É mesmo verdade o que disse João Salgueiro, ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos? Havia um grande acordo entre espanhóis e angolanos para resolver o problema do BPI. E se já não há como é que fica? São mesmo os espanhóis que vão reforçar no BCP, como queria a Comissão Europeia?
A verdade é que calamos porque andamos mal informados e isso não faz de nós bem-educados. O segredo há muito que deixou de ser a alma do negócio, quando mete dinheiros públicos, como tem acontecido, o segredo devia causar-nos medo e obrigar-nos a exigir dos políticos total transparência. Não estamos já todos cansados de pagar e calar?