Nas reações à escolha de Pedro Passos Coelho para primeiro-ministro, a direita congratula-se, mas os partidos à esquerda falam em "perda de tempo" e dizem que o Governo vai ser derrubado no Parlamento.
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Para já, a única líder partidária a reagir à indigitação de Passos Coelho foi Catarina Martins. A porta-voz do Bloco de Esquerda, durante uma entrevista na TVI, salientou que a "solução formal" de indigitar Pedro Passos Coelho para formar Governo tem "todo o cabimento", mas criticou severamente o discurso proferido pelo chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva. "Julgo que o Presidente se está a comportar como um líder de seita, a tentar criar instabilidade e a fazer chantagens e acho completamente inaceitável que assim seja", afirmou, durante uma dirigida pela jornalista Judite de Sousa.
Pelo Partido Socialista reagiu João Soares. O deputado "lamenta e estranha esta decisão do Presidente da República". A escolha é lamentada porque faz o país "perder tempo" já que "inevitavelmente" Passos Coelho vai ser derrubado no parlamento. João Soares afirma ainda que o PS "estranha a decisão porque está em contradição com o que o Presidente da República tem dito: que não daria posse a um PM que não desse garantias de um governo estável e duradouro".
O PSD, por Marco António Costa já se veio congratular com a decisão de Cavaco Silva. Dizendo que agora se "abre um novo tempo" para a Assembleia da República saber dar "estabilidade" ao novo Governo. "É o tempo da responsabilidade do Parlamento", disse Marco António Costa. O vice-presidente do Partido Social Democrata diz que esta escolha representa o "respeito pelo resultado eleitoral das eleições de 4 de outubro". Marco António Costa garantiu aos portugueses que "não viraremos as costas a qualquer dificuldade com o objectivo de garantir que a recuperaçao da economia e dos emprego continuem".
Pelo Bloco de Esquerda Pedro Filipe Soares reiterou que "tudo faremos para rejeitar o Governo aqui na Assembleia da República". "O país precisava de um Presidente responsável que não fizesse o país perder tempo e não se comportasse como se estivesse dependente da sua costela de direita, particularmente de apoio a PSD/CDS", afirmou Pedro Filipe Soares, no parlamento. Interrogado pelos jornalistas, Pedro Filipe Soares não quis dizer como têm evoluido as negociações com o PS.
Cavaco Silva "terá de assumir todas as consequencias da instabilidade" que aí vem, considera o deputado comunista João Oliveira, que lembrou que o PCP vai também apresentar um moção de rejeição ao Governo. "Esta decisão é inaceitável, revela absoluto desprezo pela vontade expressa pelo povo português nas eleições de 04 de outubro e total ausência de imparcialidade", declarou João Oliveira, nos Passos Perdidos do parlamento. Segundo o deputado comunista, Cavaco Silva colocou-se "totalmente ao serviço do PSD e do CDS, cuja ação governativa os portugueses quiseram ver interrompida".
Foi dos discursos mais "importantes, claros e corajosos de todos os mandatos de Cavaco Silva" diz Nuno Melo do CDS. A decisão que Cavaco tomou foi a normal, afirmou o deputado, "optar por quem perdeu as eleições é que seria estranho". Segundo o centrista - que recordou que Cavaco Silva fez aquilo que todos os Presidentes da República fizeram nos últimos 40 anos - a decisão e a responsabilidade cabe agora aos deputados, sendo de esperar que os parlamentares façam o que tenha que ser feito, escusando-se a antecipar cenários.