Questionado sobre a "competição à esquerda", João Oliveira diz que na "ação de outros, alguma encenação se sobrepõe à substância". Cada problema, da negociação em permanência, "é um bico-de-obra".
Corpo do artigo
À TSF, João Oliveira diz que o partido não entra na "competição à esquerda". "Nós não encaramos estas coisas como uma competição com os grupos parlamentares ou com outros partidos. Às vezes, somos confrontados com circunstâncias em que a forma parece ser mais relevante do que a substância e em que a alguma encenação acaba por sobrepor-se a alguns critérios mais substanciais de apreciação política".
Na leitura do líder da bancada comunista, esse facto "depende da ação de outros" e, por isso, o PCP "vai continuar a ser confrontado". Quinta-feira, num artigo de opinião, no jornal "Avante", órgão oficial do PCP, o líder parlamentar comunista dizia que na atual solução de Governo, às vezes parece que "andam uns a juntar com o bico e outros a espalhar com as patas".
E detalhou: "Ao anunciar a criação de um imposto cujos principais elementos estavam ainda em discussão - incluindo entre o PCP e o Governo -, o BE procurou, uma vez mais, antecipar-se no anúncio de uma medida de forma a chamar a si os créditos pela aprovação daquilo que não depende apenas da sua vontade ou intervenção. A confirmação pelo PS, ainda que admitindo a indefinição de alguns dos elementos do imposto, contribuiu para o que veio a acontecer ao longo dos últimos dias".
Na entrevista à TSF, João Oliveira considera que o facto de, pela primeira vez nas últimas décadas, o PCP apoiar uma solução de Governo, "não coloca especiais dificuldades, nem permite especiais facilidades" para o andamento do próximo Congresso do partido que vai decorrer, em Almada, entre 2 e 4 de dezembro.
Embora admita que é "um elemento novo na situação política com tudo o que isso implica", João Oliveira avisa que "o PCP mantém os objetivos programáticos". "Julgo que quem esteja à espera que o PCP aligeire alguma coisa enganar-se-á redondamente ".
Sobre a negociação "em permanência", com o Governo, João Oliveira diz que "cada problema é um bico-de-obra", mas que tem sido possível ultrapassar "a maior parte dos problemas que vão surgindo". O líder parlamentar comunista considera que o próximo ano político "nunca poderá ser considerado fácil com as dificuldades económicas e sociais que o país atravessa".
Em jeito de balanço dos primeiros meses de Governo PS apoiado pela esquerda, admite que foram tomadas "algumas medidas positivas que é preciso consolidar". E cita as pensões como "exemplo mais flagrante". O aumento real das pensões é uma das exigências do PCP, que se demarca do PS na questão do aumento dos impostos indiretos. "Nós temos uma consideração que não é coincidente com o aumento dos impostos indiretos, que são impostos cegos".
Embora com algumas ressalvas, como exemplifica. "A tributação de bens de luxo com agravamento em sede de IVA é um exemplo em que existe a possibilidade de aumento sem agravar a injustiça social".
O PCP vai também insistir junto do Governo para a necessidade de aumentar o investimento público sem o qual, diz João Oliveira, os "indicadores económicos não podem evoluir".
Para o dirigente comunista, o facto de a economia não estar a crescer como previsto pelo Governo, explica-se, por um lado com a "falta de investimento público" e, por outro, "pelas operações de boicote declarado de investidores insatisfeitos com a solução política encontrada", em Portugal.