Ana e Bruno trocaram Lisboa pelo Entroncamento e contam que afinal não é difícil introduzir ementas vegetarianas em cantinas públicas. Bastou boa vontade. Têm 4 provas, os 4 filhos.
Corpo do artigo
Quando engravidou pela primeira vez, há 7 anos, Ana já era vegetariana, mas menos do que hoje. Durante a gravidez da Maria comeu peixe, ovos e alguns produtos lácteos. O médico que a acompanhava em Lisboa receitou-lhe suplementos de ferro e vitaminas.
Entretanto nasceram o José, a Júlia e a Amélia. A gravidez da Amélia já foi seguida no Centro Hospitalar do Médio Tejo. Aqui o obstetra já não receitou suplementos, "disse-me que estava tudo ótimo nos meus exames, não precisava de fazer mais nada", conta Ana Castro.
Foi a primeira de várias surpresas do casal vegetariano que trocou Lisboa por uma cidade mais pequena, o Entroncamento, mas que se preparava para grandes dificuldades para manter a família dentro do seu estilo de vida.
Até há alguns meses, optaram por praticar o ensino em casa. "Um dos motivos foi precisamente o receio de não podermos manter a alimentação vegetariana dos nossos filhos, mas decidimos arriscar e entrámos na escola pública", diz Ana.
A presidente do Agrupamento de Escolas do Entroncamento percebeu muito bem quando o casal pediu refeições vegetarianas para os filhos, a Câmara Municipal também. Negociou com a empresa fornecedora das refeições escolares, e pronto, desde fevereiro de 2016, Maria, de 6 anos, é a primeira aluna da sua escolas cujas salsichas são de seitan, de tofu ou de seitan.
Ana não exerce, mas não despreza a formação de advogada, "uma circular do Ministério da Educação, de 2007, já diz que pode haver ementas alternativas nas escolas por motivações de saúde ou religiosas. Podíamos ter mentido, arranjado uma declaração médica a dizer que eram intolerantes a proteínas animais... mas achámos que valia a pena tentar."
Bruno fala de outra surpresa quando, pela primeira vez, um membro desta família precisou de internamento hospitalar. "A Júlia adoeceu e pensámos logo como é que íamos tratar das refeições enquanto estava internada. Eis quando percebemos que o Centro Hospitalar do Médio Tejo já oferecia refeições vegetarianas a quem optasse por esta alimentação." "Mais que isso", recorda Ana, "eram refeições de grande qualidade, de grande variedade". Até fizeram questão de conhecer a nutricionista do hospital.
O casal arrisca-se agora a ser o pioneiro do vegetarianismo no Entroncamento. Do outro lado da casa da família abriram um espaço de formação e "aparecem cada vez mais pessoas. Há pessoas mais velhas, curiosas, mas também muitas mães com os filhos, à procura de alternativas mais saudáveis".
Esta batalha foi ganha sem necessidade de grande luta, a próxima promete exigir mais calorias. Queixam-se que "vegetarianas ou não, a falta de qualidade das refeições escolares é um problema. Parece que ninguém aprendeu nada nas últimas décadas. Há excesso de produtos processados, falta de leguminosas e o mais assustador é o excesso de açúcar. Além de fruta, a sobremesa inclui quase sempre um doce!", concluem em tom escandalizado.