
MUDE
O que nos contam as histórias gravadas no corpo de homens e mulheres do início do século XX?
Corpo do artigo
Durante os próximos 3 meses, a exposição "O mais profundo é a pele" mostra tatuagens recolhidas no período entre 1910 e 1940. Até essa data no Instituto de Medicina Legal guardavam-se em frascos com formol fragmentos de pele humana tatuada. São alguns desses fragmentos que estão agora expostos no Palácio Pombal em Lisboa.
TSF\audio\2017\03\noticias\30\tarde_rita_costa_pedro_simoes_ribeiro
"Esta coleção permite dar um retrato da Lisboa da primeira metade do século, saber quem se tatuava, porquê, onde, perceber os bairros e perceber a dinâmica social", revela Bárbara Coutinho, a diretora do MUDE - Museu do Design e da Moda que aceitou o desafio de expor parte do espólio do Instituto de Medicina Legal e Ciência Forense.
Carlos Branco, um dos curadores da exposição trabalhou no restauro dos 60 fragmentos expostos, alguns com mais de cem anos e conta que à época existiam vários tipos de tatuagens, "as inscritivas com nomes e datas, as tatuagens amorosas, eróticas, animais, flores e depois aquelas mais simbólicas como o saimão ou os cinco pontos, o homem entre quatro paredes".
"Aquilo que se acreditava é que quem se tatuava tinha uma predisposição para o crime", afirma Carlos Branco. Essa teoria foi defendida pelo italiano Cesare Lombroso (1835-1909), considerado o pai da criminologia moderna e na exposição é possível encontrar um livro do autor no qual ele mostra tatuagens típicas dos delinquentes, das prostitutas ou dos mafiosos.
A diretora do MUDE defende que "O mais profundo é a pele" é uma exposição que permite vários olhares. "É como um caleidoscópio, permite um olhar filosófico, um olhar sociológico, antropológico e até político".
Catarina Pombo Nabais, coordenadora do SAP LAB (laboratório de ciência, arte e filosofia) do Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL) é outra das curadoras da exposição e defende que esta mostra levanta várias questões filosóficas. "A filosofia traz a esta exposição uma derme , uma epiderme mais espessa no sentido de tentar compreender a tatuagem no sentido artístico, estético, mas também esta relação entre a tatuagem e a criminalidade", afirma.
Catarina refere a obra "Vigiar e punir" de Michel Foucault, o filosofo que atravessa a exposição.
Além dos frascos de formol com pele tatuada há documentação que Helena Teixeira do Instituto de Medicina Legal e Ciência Forense, acredita, dá ainda mais riqueza a esta mostra.