
Leonardo Negrão / Global Imagens
Um em cada quatro idosos está desnutrido ou em risco de desnutrição - a conclusão é de um estudo da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.
O estudo inquiriu cerca de 400 pessoas com mais de 65 anos.
O isolamento, ausência de apoio da família e dificuldades económicas estão entre as principais causas.
O projeto Pronutrisenior, arrancou em maio de 2015 e contou com a colaboração da Unidade de Saúde Familiar Nova Via, em Vila Nova de Gaia.
Em declarações à TSF, a coordenadora do estudo, Maria Vaz de Almeida, e uma das investigadoras do estudo, Anzhela Sorokina, explicam que muitos idosos não têm apoio familiar, fazem as compras sozinhos ou vivem em locais isolados. A acrescentar a estes dados, muitos optam por comprar alimentos em pequenas quantidades, o que indicia - de acordo com os investigadores - dificuldades financeiras.
A Unidade de Saúde Familiar Nova Via, em Gaia, tem cerca de 17 mil utentes, de diferentes extratos sociais.
Com este estudo, a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, pretende ainda criar um índice de risco nutricional, que permitisse identificar idosos em risco e agir precocemente.
"Como pouco, sopa ou chá e fico satisfeita"
Perante estes dados, que revelam que um em cada quatro idosos está desnutrido, a jornalista Rute Fonseca foi para o terreno, tentar conhecer os hábitos alimentares desta população. Esteve no Centro de Dia São Pedro, em Vila Nova de Gaia.
O dia é passado no centro, onde almoçam e ao início da noite regressam a casa. Natércia Barros, tem 88 anos.
"Como pouco, perdi o apetite e às vezes só bebo chá. Adoro bacalhau à Narciso, que é frito".
Está no Centro de Dia S. Pedro há 16 anos.
"Vim para aqui, porque não comia, deitava fora e dava ao cão. Para ter acompanhamento vim para aqui".
Conta com a ajuda da filha, que é quem trata das compras lá para casa. Na maior parte dos dias não janta ou opta por forrar o estômago só com uma sopa.
"Quando quero faço uma canja, ou uma sopa branca, mas é raro". Reconhece que tem reflexos na saúde:" sinto-me fraca quando como menos".
Já Joaquim Gomes adora comer, mas a saúde não o deixa abusar, é hipertenso.
"Eu não posso comer salgado, tenho muito cuidado. Quando quero compro um bocadinho de presunto, mas é uma vez no ano".
Tem 74 anos e sempre gostou de cozinhar, hábito que vai mantendo. Tem um terreno que cultiva e que ainda lhe vai dando muito do que come.
Ao lado está Maria Cunha, tem 72 anos.
"Gosto mais do insosso do que do salgado. Almoço aqui, depois levo sopa para casa para o jantar e como uma sande."
Veio para o Centro de Dia à procura de companhia e aproveita para descansar, diz que está cansada de cozinhar.
Todos desvalorizam o peso da questão monetária na escolha dos alimentos.