Economia

Banca, energia, seguros e aviação: os grandes investimentos chineses em Portugal

Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Foi no período da troika que o capital chinês entrou em força em Portugal. Hoje, Pequim tem posições importantes nalgumas das principais marcas lusas e investimentos de milhares de milhões de euros.

Fevereiro de 2012. Os acionistas da EDP aprovavam a entrada da China Three Gorges (CTG) no Conselho Geral e de Supervisão da empresa, após a gigante chinesa ter desembolsado 2.690 milhões de euros por 21,35% do capital da elétrica nacional.

A CTG, uma das maiores empresas do mundo, reforçou essa posição em 2017, comprando mais 1,9% da EDP por 208 milhões de euros. A companhia chinesa é a acionista maioritária da marca de energia mas em 2018, lançou uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a totalidade do capital da EDP e da EDP Renováveis. Os chineses oferecem um máximo de 10 mil milhões de euros, numa operação com desfecho ainda incerto.

Início do jogo: energia

A operação marcou o início de uma série de entradas de empresas chinesas no capital de companhias portuguesas. Os asiáticos vêm Portugal como uma porta de entrada na Europa e nos mercados de língua portuguesa.

Logo depois da EDP, foi a vez da REN ganhar acionistas asiáticos: outra empresa pública chinesa, a State Grid, paga cerca de 290 milhões de euros por 25% do capital da gestora da rede elétrica nacional.

Banca e Seguros

Da energia, os olhos de Pequim focaram-se no setor financeiro: a Fosun comprou 85% da Fidelidade, a maior seguradora portuguesa, por 1,1 mil milhões de euros. Pouco tempo depois, a mesma empresa adquiriu também a Luz Saúde (à época, Espírito Santo Saúde), já através da Fidelidade. Aproveitando o colapso do Banco Espírito Santo, a seguradora entra no setor da saúde por 480 milhões.

A empresa quis também entrar na energia e acompanhou a estatal State Grid, comprando 5,3% do capital da REN.

Em 2016, novo alvo: o BCP. A Fosun paga 175 milhões de euros por 16,7% do capital do maior banco privado em Portugal. A operação foi concretizada através de um aumento de capital. A posição seria reforçada: primeiro num aumento de capital que elevaria essa posição para 23,9%, e depois para 27% através de operações compra de ações no mercado. O objetivo, autorizado pelo BCE, é atingir 30%.

Ainda no setor financeiro, destaque para a compra do Banif - Banco de Investimento pelo grupo Bison Capital, com sede em Hong Kong. A operação implicou uma injeção de capital de 41 milhões de euros. O banco chama-se agora Bison Bank.

TAP: português com sotaque brasileiro e um cheirinho de mandarim

A aviação também não escapou aos investimentos chineses: a HNA detém uma participação de 11,5% no consórcio Atlantic Gateway, que detém 45% da TAP. O Estado português é dono de 50% da transportadora aérea, enquanto os trabalhadores controlam outros 5%.

Comunicação social

O investimento chinês também chegou aos media: a KNJ, de Macau, tornou-se acionista do Global Media Group, dono da TSF, Diário de Notícias, Jornal de Notícias, e O Jogo, entre outros títulos.

Vistos Gold: China vale mais de metade

Os chineses lideram o investimento através dos vistos gold. Lançado em 2012, o programa de Autorizações de Residência para Atividade de Investimento angariou, desde o início, um total de mais de 4 mil milhões de euros, dirigidos, na vasta maioria, para a compra de imóveis: esta rubrica valeu perto de 3,7 mil milhões.

O investimento com origem na China totalizou mais de metade deste valor: foram quase 2,3 mil milhões de euros.

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Hugo Neutel