Há uma campanha que corre nas ruas e uma que corre nos subterrâneos da política. A das ruas é a das promessas, das bandeiras, dos bombos, dos beijos e dos momentos televisivos. A outra, a subterrânea, é a das polémicas e da lama que vai sendo atirada para a ventoinha. Uma espécie de intifada que não é feita de pedras, mas de notícias e de casos, políticos e de justiça.
A cinco dias das eleições legislativas, e com as sondagens a dar PS e PSD cada vez mais próximos, joga-se o tudo ou nada. Se Tancos continua a assombrar a campanha socialista - o DCIAP veio, entretanto, dizer que ponderou ouvir António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa, mas considerou que não havia relevância -, os socialistas tentam agora que o caso das assinaturas fantasma dos deputados do PSD - que a TSF avançou em primeira mão - consiga, pelo menos, provocar alguma mossa no adversário. Vai daí, o PS decidiu denunciar o caso aos serviços jurídicos da Assembleia da República, ao Tribunal Constitucional e ao Ministério Público. Os socialistas acusam o PSD de "falsificação" e da "prática de um ilícito criminal".
A conferência de líderes agendada para esta quarta-feira promete. É que, com esta "jogada", aquilo que devia ser uma reunião dedicada ao tema Tancos, terá agora um novo tema na agenda: o das assinaturas do PSD. Confrontado com a notícia, Rui Rio não tentou desculpar o líder da sua bancada - pelo contrário, tirou-lhe o tapete. O presidente do PSD admitiu que "não é normal" o que aconteceu, enquanto Assunção Cristas tratou logo de assegurar que as assinaturas do CDS foram todas autorizadas.
Serão nervos?
Se, há um mês, a grande dúvida sobre as eleições do próximo domingo era se o PS chegava ou não à maioria absoluta, agora que essa maioria parece cada vez mais distante a questão parece ser: até onde pode o PSD aproximar-se dos socialistas?
A mais recente sondagem da Pitagórica para a TSF, JN e TVI, mantém os dois partidos separados por sete pontos. Tal como a sondagem da Universidade Católica para a RTP, já agora. Talvez isso explique a excitação da campanha social-democrata nas últimas horas. Rui Rio anda tão confiante - o "cavaquistão" deu-lhe uma ajuda - que já começou a anunciar ministros para um futuro governo. Depois de Joaquim Sarmento - o "Centeno" de Rio -, agora foi a vez de Arlindo Cunha para a agricultura. Um ex-ministro de Cavaco Silva que o presidente do PSD foi "ressuscitar" às décadas de 80 e 90, inspirado, quem sabe, pelos ares do campo onde andou a apanhar maçãs. Sim, aconteceu. No Bloco Central, descaroçamos isto tudo.
Faz parte da campanha. Há quem apanhe maçãs, há quem toque vários instrumentos, Assunção Cristas já andou de bicicleta e, desta vez, não quis fazer a desfeita a uma senhora que a agarrou e, cá vai disto... A menina dança? Perante sondagens tão pouco animadoras, a líder do CDS tem-se esforçado por evidenciar o Paulo Bento que habita dentro dela: tranquilidade, é preciso tranquilidade.
À esquerda, a conversa é outra. Mesmo com o PS mais longe da maioria absoluta, Bloco de Esquerda e PCP continuam de armas apontadas aos socialistas. Jerónimo de Sousa, que evita grandes euforias com a subida da CDU nas sondagens, está mais preocupado em explicar qual é o caderno de encargos dos comunistas para um futuro governo. A reversão da legislação laboral, que entrou em vigor esta semana, parece ser condição inegociável.
O Bloco de Esquerda também quer mexer nas leis do trabalho para proteger, por exemplo, os cuidadores informais. Catarina Martins ouviu, esta terça-feira, testemunhos de quem dedica a vida a cuidar dos outros e não sente que o Estado os ajude a eles. O Afonso de Sousa fez rádio com esses testemunhos e é uma pena se não for ouvir.
Mais discreto anda António Costa. O secretário-geral do PS, que é, simultaneamente, primeiro-ministro, vai alternando entre um fato e outro, em função da ocasião e das necessidades. E um furacão a passar ao largo dos Açores é uma excelente oportunidade para vestir o fato de primeiro-ministro. Costa decidiu colocar a campanha em standby e pré-anunciar uma viagem aos Açores, se for necessário. O objetivo é claro: mostrar que está mais preocupado com o País do que com a campanha. Mas pode mostrar também que está a tentar capitalizar eleitoralmente um momento. Esta terça-feira chegaram à campanha mais dois reforços para fazer tiro ao PSD: Pedro Nuno Santos e Vieira da Silva vieram acenar com o papão da direita que quer privatizar a saúde.
A correr em pista própria, o PAN continua a espalhar pelo País a sua agenda climática e ambiental. André Silva não desgosta das sondagens que dão um crescimento ao partido, mas acha que elas estão a nivelar por baixo e que o PAN vai ter muito mais que 3% nas próximas eleições. Quem não deve achar muita graça é Assunção Cristas. Só por causa disso, comeu uma bola de berlim ao lanche e um porco no espeto ao jantar, antes de prever uma desfolhada da esquerda no próximo dia 6 de outubro. A Raquel de Melo conta-lhe tudo.
O filme sonoro de mais um dia de campanha está aqui, tem o dedo do João Félix e vale cada segundo. Não se esqueça de que, esta quarta-feira, o Manuel Acácio está em Gaia, em frente à Câmara Municipal, para mais um Fórum TSF Especial Legislativas, com dois convidados: o presidente do Iniciativa Liberal e Rui Tavares, do Livre. E o Pedro Tadeu conta-lhe hoje a história do hino do Bloco de Esquerda - um partido que não tem hino.
Tenha um excelente dia.