Política

Rio não quer familiares no seu Governo e Jardim chegou para partir a louça toda

Tiago Petinga/Lusa

Rui Rio discursou no Porto depois de uma arruada que mobilizou centenas, mas quem fez a festa foi Alberto João Jardim.

A terminar aquele que acabou por ser o último comício da campanha social-democrata, Rui Rio deixou uma promessa ao país que é simultaneamente um "recado" público para o próprio partido: o Governo e a administração pública não são lugar para dar trabalho a familiares.

"Nós vamos para o poder para gerir o Estado, vamos gerir a administração pública, mas não vamos para lá para inundar a administração de militantes do PSD e de gente que nos é afeta, muito menos para colocar lá os nossos familiares e os familiares dos nossos amigos. (...) Isto é um compromisso que tenho com Portugal, mas é um recado que também tenho para dentro do meu próprio partido."

Outra mensagem da noite, desta feita para quem está a pensar em ficar em casa no domingo: "É preciso que aqueles que se vão abster percebam que, se não forem votar, e não forem votar no PSD, na prática estão a reforçar o PS, PCP e BE. Quem domingo não votar tem de ter consciência que, indiretamente, é como se estivesse a votar nessa solução".

A ameaça de chuva apressou o discurso de Rui Rio na Praça da República, no Porto, mas ficou a ressalva: "não estamos molhados, estamos abençoados."

O presidente do PSD enumerou todos os impostos, diretos ou indiretos, que o Governo de António Costa aumentou - dos combustíveis aos refrigerantes - até o público desatar em vaias. E já agora, esta é a "última oportunidade para responder" a uma pergunta repetida em todos os discursos de campanha: vai o PS repor o imposto sucessório?

Mais vaias para os socialistas quando Rio lembrou que "não foi bonito o PS acenar com o papão e dizer que vinha aí o diabo". "Mas alguém é maluco? Alguém vai para o Governo fazer mal às pessoas? O PSD não vai para o Governo cortar pensões nenhumas, muito pelo contrário, vai aumentar o poder de compra."

Terminado o discurso, Rui Rio explicou que o concerto preparado para a noite fora cancelado e pediu um minuto de silêncio em memória de Freitas do Amaral. A música animada entre as frases mais fortes que ia proferindo, essa, manteve-se.

Como prometido esta tarde, a morte do fundador do CDS não mudou os planos da arruada na Rua de Santa Catarina no Porto.

Houve música, barulho e muita, muita confusão. Rui Rio acena, mas escondido na bolha de jotas, jornalistas e uma equipa de seguranças, dificilmente há quem o veja. Mais difícil ainda será fazer chegar ao líder do PSD palavras, quer de apoio quer de contestação. Os bombos e tambores - mais do que os habituais nas anteriores iniciativas de rua - abafam os gritos de quem quer que seja.

Às centenas de pessoas que saíram de casa juntam-se três reforços de peso: o eurodeputado Paulo Rangel, Luís Filipe Menezes e Alberto João Jardim. Foi o antigo presidente do governo regional da Madeira que, já na Praça da Batalha, abriu as hostilidades.

Para começar, uma correção - o PSD não é um partido de direita. "Temos que começar por denunciar uma fraude que anda na comunicação social. Se repararem eles dizem a direita. Nós é que somos a direita? (...) O que é que eles chamam a esquerda? O fascismo comunista", disparou Alberto João Jardim.

Com os socialistas apoiados pelo Bloco de Esquerda e PCP, Portugal tem "a maior carga fiscal de sempre", condenou o antigo presidente do governo regional da Madeira. "Mas para onde foi o dinheiro?"

"Há gente a morrer em Portugal pela degradação dos serviços públicos" e as greves nos transportes obrigam a que os trabalhadores "vão ao fundo da algibeira tirar o dinheiro que era para comer para pagar transportes alternativos". E houve "114 mortes em incêndios". Dizer isto, salienta, "não é explorar a desgraça - o problema é que a soma destes mortos resultam da repetição de falhas da administração pública", defendeu.

"O socialismo segue o caminho do empobrecimento de Portugal para ter cada vez mais portugueses no poder", acusou ainda."Com uma classe média forte a democracia robustece e, quando há muita pobreza, as pessoas ficam dependentes das esmolas do Estado, dos subsídios do Estado, da caridade do presidente da Câmara e são obrigadas a votar nessa gente", defendeu."O socialismo segue o caminho do empobrecimento de Portugal para ter cada vez mais portugueses no poder."

'BUUUUU!' - O público assobiou contra o Governo de António Costa em todas as oportunidades e Alberto João Jardim lá pediu "guardem isso para domingo à noite".

Mas a frase que provocou a maior vaia? "É preciso não esquecer com quem estamos a lidar: António Costa era um dos braços direitos de Sócrates, agora ninguém fala nisso, nem se conhecem, era o braço direito do homem." Se a praça da República fosse uma casa teria vindo abaixo.

Já o caso Tancos é a "anedota nacional". Com uma alegoria de ilhéu, Alberto João Jardim voltou a pôr a multidão em êxtase: "O barco encalhou, o barco começou a meter água, o barco começou a ir ao fundo, os marinheiros sabem que o barco está afundado, o imediato do navio sabe que o barco está afundado e o comandante, coitadinho, não sabe de nada."

"Há que dizer as coisas sem papas na língua", explica o madeirense. O público pede e Jardim salta - olé! olé! - Desta vez nem Rui Rio escapa a tirar os pés do chão.