Recados internos, aposta nas autárquicas e na abertura do partido à sociedade e uma fuga da direita política vincada como nunca o fez. Rui Rio abre congresso que se pretende da união com citação de Sá Carneiro para que fique claro: "Não somos nem seremos nunca uma força de direita".
Nem de direita, nem de esquerda. Nem liberais, nem conservadores. Nem socialistas, nem estatizantes: sociais-democratas. Se grande parte do discurso já foi ouvido em múltiplas circunstâncias ao longo dos últimos meses, há no discurso de Rui Rio um vincar mais explícito do que nunca de que o PSD vai para o centro e no centro quererá ficar.
Num discurso lido de uma ponta à outra, Rui Rio deixou a ideologia para o fim e se seria expectável citar Sá Carneiro, talvez a citação em particular não fosse a mais óbvia para uma faixa do PSD. "Nós, Partido Social Democrata, não temos qualquer afinidade com as forças de direita, nós não somos nem seremos nunca uma força de direita", cita Rio.
Como se não ficasse suficientemente claro, Rui Rio continua: "Deslocar o PSD para a direita é desvirtuar os nossos princípios e os nossos valores e afunilar eleitoralmente o partido em direção a um espaço onde hoje já praticamente nada mais há para ganhar".
Para o presidente do partido, "uma coisa é o PSD conseguir ser o líder de uma opção à direita da maioria de esquerda que nos tem governado outra, completamente diferente, é sermos, nós próprios a direita".
Se o palmómetro contar para alguma coisa ou sinalizador de qualquer sucesso, nesta fase foi pouco entusiasmante. Foi bem melhor quando Rio repudiou eventuais "aproveitamentos abusivos de meios públicos autárquicos para fins de natureza pessoal ou partidária ou de utilização da autarquia como empregador de clientelas partidárias", mas já lá vamos.
Recados para dentro
Responsabilidade. Esta é uma palavra que estamos habituados a ouvir sair da boca de Rui Rio e, neste congresso de Viana do Castelo, a ideia de oposição responsável foi bem sublinhada pelo presidente social-democrata que defende que "a política em geral e a dinâmica parlamentar de oposição, em particular, foram evoluindo para uma lógica do quanto pior, melhor".
E esta é uma ideia que Rio tem vindo a expressar ao longo dos tempos afastando que no seu PSD não vale a pena insistir na política do "bota-abaixo e da critica sem critério nem coerência". E é aqui que surgem os recados para os críticos internos.
"É, pois, uma oposição credível e realista, aquela que o PSD fará ao Governo no mandato que agora se vai iniciar. Fazer o contrário, como alguns críticos internos defenderam e como tantos comentadores nos pretendiam ensinar, teria tido o mesmo resultado eleitoral que outros partidos tiveram, quando deram ouvidos a tais críticas e optaram por seguir as teses do politicamente correto", diz Rio como que piscando o olho tanto a Montenegro como ao CDS.
"Onde estaria o PSD se tivéssemos fraquejado e tivéssemos seguido o caminho para que nos queriam empurrar?", questiona Rio com a resposta na ponta da língua: "Onde outros estão agora...(olá, CDS!)e o PS estaria provavelmente sentado em cima de uma maioria absoluta".
Ainda internamente, Rui Rio aponta a mira: "não é com a discussão de lugares, nem com permanentes atitudes de guerrilha na comunicação social" que o PSD vai conseguir conquistar os portugueses. Mais: "um partido não pode ser uma agência de empregos políticos".
Rio nota que "os diferentes posicionamentos dentro de um partido têm de ser ditados por genuínas diferenças de opinião e não por divergências fabricadas que apenas pretendem combater quem não nos deu o lugar que a ambição pessoal reclamava".
Que fasquia para as autárquicas?
Na campanha interna, o mais afoito que Rui Rio foi a traçar metas foi para Lisboa. Na altura disse que o partido tem "a ambição de ganhar" a capital. De resto, o presidente do partido sempre defendeu a ideia de que mais do que vencer câmaras, é preciso conquistar autarcas.
No discurso que fez aos congressistas, repetiu a dose. O social-democrata sublinha que o partido, em 2021, tem de "recuperar o terreno perdido em 2013 e em 2017". "Recuperar presidências de câmara, mas também vereadores e eleitos de freguesia", diz.
Ainda assim, para os Açores, a conversa é um pouco mais galvanizadora. Elogiando aquele que é também até agora seu vice-presidente, José Manuel Bolieiro, Rio destaca que a eleição deste para a presidência do PSD Açores permite ao partido "acalentar a esperança de um resultado vitorioso nas eleições" no fim do ano.
E ainda sobre a implantação autárquica que Rio pretende para o país, a dinamização do Conselho Estratégico Nacional é muito importante. Primeiro, porque permite "modernizar e refrescar o partido", depois porque vai dar lugar à construção de "respostas aos novos desafios que o país enfrenta, através da produção de ideias e soluções coincidentes com as da própria sociedade".
Daí, Rio nota que é este o rumo que o PSD vai ter de seguir, com um "empenho sério de toda a estrutura partidária a começar pela própria direção nacional". E é aqui que entra o aviso a quem ouse boicotar este caminho: a direção "terá de se substituir à estrutura local, sempre que esta se revelar incapaz de atingir os objetivos políticos".
Ainda em campanha, Rio já tinha avisado: "Há distritais neste país que funcionaram bem, que procuraram chamar as pessoas para o Conselho Estratégico Nacional. Há outras que gostariam de ter funcionado bem, mas desligadas que estão da sociedade, não conhecem sequer pessoas para poder chamar". Agora, está concretizado o aviso.
Contra o "cacique" marchar, marchar
A palavra não foi de Rui Rio, mas a ideia está bem patente e até foi aqui que conseguiu o maior número de palmas (ou, pelo menos, mais efusivas). Sublinhando que é preciso conquistar os portugueses, Rio traça uma linha vermelha em relação àquela que é chamada vulgarmente de cacicagem.
Até porque, diz Rio, "a escolha de um autarca não é a escolha de um amigo nem a de um líder de uma qualquer fação partidária local, ela tem de ser ditada com base em critérios de competência, de dedicação e de credibilidade".
"Sempre que houver aproveitamento abusivo de meios públicos autárquicos para fins de natureza pessoal ou partidária ou de utilização da autarquia como empregador de clientelas partidárias, esses casos, têm de merecer o nosso inteiro repúdio e uma atenção especial do próprio Ministério Público", atira Rio arrancando aplausos da plateia.
40 minutos depois, Rio sai de palco aplaudido pelos congressistas num congresso que se pretende de união. Poucas foram as pessoas que não se levantaram ou não bateram palmas ao líder do partido quando terminou de falar. Agora, resta saber, o que vai acontecer nas intervenções de alguns críticos que por Viana possam aparecer.