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Pensar o futuro num mundo de extremos

Com relatório anual da PMI ficaram em cima da mesa vários cenários para 2022. A adesão a modelos de trabalhos híbrido ou a contínua a aposta no virtual não surpreendem, mas há os que são menos óbvios.

Ao contrário do que acontecia há um ano, quando apresentou 2021 como "o ano mais esperado de sempre", Marian Salzman optou por uma postura mais cética quando, esta semana, revelou o relatório "22 Tendências para 2022". "No início da pandemia antecipava-se um maior sentido comunitário, mas, no fim de 2021, há uma cada vez maior preponderância do individualismo", afirmou a conceituada preditora de tendências e vice-presidente para a Comunicação Global da Philip Morris International (PMI),

Marian Salzman aponta três fatores que vão ter impacto nas tendências que marcarão o futuro próximo: a pandemia e o modo como reagimos à mesma, o impacto da mudança climática e o reconhecimento das desigualdades e iniquidades ao nível social. Do trabalho ao lazer, passando pela forma de pensar, estes são os três vetores a moldar a forma como viveremos os próximos anos.

Mercado de trabalho mais flexível

Se ainda é cedo para afirmar se a digitalização e a crescente importância da robótica, da inteligência artificial e IoT serão responsáveis pela perda de empregos ou pela criação de novas profissões, mas uma coisa é certa: o futuro do trabalho nunca mais será o mesmo depois da Covid-19. "Durante a pandemia, milhões de trabalhadores de escritórios descobriram que, ao trabalharem a partir de casa, continuavam a ser produtivos e felizes, o que deixava de justificar longas deslocações diárias. Ao mesmo tempo, milhões de outros trabalhadores pior pagos - muitos dos setores da restauração e da hospitalidade - deram por si a questionar se o trabalho que desempenhava valia a pena", lembrou Salzman. Este estado de espírito está a levar a uma mudança de prioridades no que toca ao emprego, com trabalhos em que o salário é inferior a terem de ganhar maior flexibilidade para continuarem atrativos. Isto, considera Salzman, vai obrigar as organizações a repensar as condições e benefícios que oferecem e a apostar em modelos de trabalho híbridos, em que as idas ao escritório podem ficar reduzidas a um ou dois dias por semana. "Hoje o escritório é uma cadeira", garante.

Ao mesmo tempo, e acompanhando outra tendência que é a da valorização das "cidades de 15 minutos", muitos grupos empresariais estão a deslocalizar-se para cidades mais pequenas, onde o tempo gasto em deslocações é menor e há maior qualidade de vida. A própria PMI é um exemplo disso, ao mudar os seus escritórios de Nova Iorque para Stamford, no estado do Connecticut, Estados Unidos da América.

Consequência ainda da pandemia é a previsão de que, tanto em 2022 como nos anos seguintes, as áreas da saúde, tecnologia, ensino e hospitalidade sejam aquelas onde serão necessárias mais pessoas.

Não importa a área, mas na progressão profissional será cada vez mais valorizado o que Marian Salzman denomina como "portefólio de experiências", bem como as capacidades de cada um - vistas como o conhecimento prático que pode ser aplicado de imediato numa determinada tarefa. Uma mudança que dará cada vez maior relevo à capacidade de atualização quer ao nível das empresas, quer a nível individual. "As empresas mais inteligentes não esperam e estão, proativamente, a identificar as falhas existentes dentro das suas forças de trabalho e tentar perceber como podem atualizar as capacidades dos seus empregados de uma forma rápida e com uma boa gestão de custos", explicou a responsável da PMI. Assim, o investimento em formação - quer seja através de coaching e mentoring, estágios, aulas presenciais, ou uma mistura de tudo isto - vai estar cada vez mais presente nas empresas. E Salzman lança o aviso: "Aqueles que não tiverem a sorte de trabalhar para este tipo de empresas têm de decidir se querem investir na atualização das suas competências ou escolher um caminho totalmente novo e adquirir todo um conjunto de novas competências".

Grandes multidões? Não, obrigada

"Da primeira vez que voltei a um evento ao ar livre com muitas pessoas não me senti confortável", revelou Salzman durante a apresentação. Para a preditora de tendências, é claro que a separação garantida por um ecrã de computador ainda é muito valorizada. "Ainda precisamos da segurança dada por um ecrã. E isso vai continuar, com o ecrã a ser encarado como um espaço seguro".

Assim, 2022 ainda não será o ano em que voltarão em força as saídas com amigos e as idas às compras, com Salzman a antecipar a continuação da preferência pelo e-commerce, pelo localismo e pelas reuniões sociais feitas via computador. "Mais cedo ou mais tarde, o mundo encontrará um "novo normal", por curto que seja, e as pessoas vão sentir necessidade de voltar a viajar. Mas a subida do custo dos combustíveis, as preocupações sobre a mudança climática e a os efeitos duradouros da pandemia vão tornar modo de vida híper-local cada vez mais atrativo", antecipa.

Os "loucos anos 20" do século XXI serão, afinal, passados atrás de um ecrã, numa existência em que a importância da realidade virtual, das criptomoedas e das reuniões online é potenciada. Neste universo já existem pessoas "dispostas a gastar tanto com o seu avatar como na vida real", e há quem invista 69 milhões de dólares numa obra de arte virtual. Foi o que aconteceu num recente leilão da Christie"s, em que uma obra de arte digital criada pelo artista norte-americano Mike Winkelman ao longo de 5000 dias atingiu esse valor. "O pagamento foi feito em criptomoeda e a obra de arte era digital. Podemos perguntar se a compra realmente aconteceu", questiona Marian Salzman, para quem este é o exemplo de outra tendência que marcará o futuro próximo: a do hedonismo silencioso.

Saúde mental mais importante num mundo de extremos

"2022 será o ano em que aceitaremos que a saúde mental é tão importante como a física", antecipa Marian Salzman, para quem esta é uma consequência direta do ambiente de caos e incerteza vivido nos últimos dois anos. Isso vai levar não apenas a uma maior aceitação das doenças do foro mental - individualmente e pela sociedade como um todo - mas como à procura de formas de ganhar serenidade no meio do caos. "Devemos aceitar que a complexidade é a norma e abraçá-la na medida que nos for possível, encontrando maneiras de nos recentrar". Os meios para o conseguir continuarão a ser os mais diversos, dos cobertores pesados, a meditação virtual, passando por semanas de trabalho mais curtas ou pelo recurso a drogas psicotrópicas.

Esta maior aceitação da saúde mental não é, contudo, acompanhada pelo emergir de uma sociedade mais tolerante. Pelo contrário, Salzman antecipa que o sentimento de admiração e questionamento da ciência continue a existir, acompanhado pelo crescimento do discurso de ódio, num mundo que parece ter perdido o seu centro. "A moderação parece ter passado de moda. A maioria das pessoas não se situa nos extremos, está no meio, mas não são essas pessoas que são ouvidas", alerta Salzman para quem é urgente voltar a encontrar o "meio". "Não são os gritos e a agressividade que vão resolver as coisas", garante. E, defende, um dos caminhos para o alcançar é a aposta numa cada vez maior na transparência por parte de empresas ligadas à ciência. "É o que estamos a fazer na PMI, envolvendo todos os stakeholders, incluindo os que têm posições contrárias, e suspeito que muitas empresas estão a fazer o mesmo".