A jornada, pelo mar Mediterrâneo, deverá demorar perto de duas semanas, sem haver uma garantia de que chegam ao destino. Em declarações à TSF, o ativista Miguel Duarte garante que estão preparados para a possibilidade de serem intercetados por Israel
A deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua, o ativista Miguel Duarte e a atriz Sofia Aparício integram a Flotilha Humanitária que partirá esta semana para Gaza, visando entregar ajuda à população e romper o cerco israelita. Em declarações à TSF, Miguel Duarte revela que vão partir dezenas de barcos, numa ação sem precedentes.
"É uma ação humanitária sem precedentes. Nunca houve uma flotilha tão grande. Já houve flotilhas ao longo das últimas décadas, na verdade, com este preciso objetivo de desafiar o bloqueio marítimo ilegal que Israel tem mantido sobre a população de Gaza, mas nunca houve uma flotilha tão grande. Vão sair dezenas de barcos, centenas de pessoas de mais de 40 países com o objetivo de entregar ajuda humanitária à população palestiniana de Gaza. Temos dezenas de navios cheios com tudo, principalmente comida e medicamentos. É pouco certamente e é bastante simbólico, mas levamos o que conseguimos", explica à TSF Miguel Duarte.
A jornada, pelo mar Mediterrâneo, deverá demorar perto de duas semanas, sem haver uma garantia de que chegam ao destino, como aconteceu com outras flotilhas que tentaram chega a Gaza e foram impedidas por Israel. Miguel Duarte garante que estão preparados para essa possibilidade.
"É para isso que tentamos chamar a atenção do máximo número de pessoas, para que haja o máximo número de olhos postos sobre as ações do Governo israelita e também para que haja pressão dos nossos próprios governos, para garantir que não só nós conseguimos chegar a Gaza com segurança, mas que esta ajuda humanitária tão urgente consiga também chegar a Gaza em segurança", sublinha.
O ativista frisa que a viagem pretende também ser um alerta, pedindo às pessoas que estejam atentas à viagem e à luta dos palestinianos. "A mensagem principal que queremos deixar às pessoas é: envolvam-se, estejam atentos não só ao que se vai passar com a flotilha, mas também ao que se passa em Gaza. Não deixemos de falar sobre isto, apoiem as mobilizações que vão acontecer, vão às manifestações, estejam atentos nas redes sociais às nossas movimentações e, principalmente, às ações dos governos, nomeadamente do Estado israelita, quando a ajuda humanitária estiver para chegar a Gaza. Precisamos absolutamente da ajuda de todos, isto é um movimento global da sociedade civil de solidariedade que o povo palestiniano e certamente não chegamos só nós, é preciso absolutamente toda a gente."
Segundo um comunicado da organização da delegação portuguesa na iniciativa, a partida está prevista para esta semana e a jornada pelo mar Mediterrâneo deverá durar cerca de duas semanas, com a chegada a Gaza prevista para meados de setembro, com ajuda humanitária.
“Reconhecendo a crise humanitária em curso na Faixa de Gaza — não só devido aos sucessivos ataques contra o povo palestiniano, mas também à obstrução no acesso à ajuda humanitária —, os participantes da Flotilha pela Liberdade assumem o compromisso de tentar fazer chegar mais auxílio à região. Mas transportam também uma mensagem: o genocídio deve acabar, o cerco marítimo a Gaza deve terminar e deve ser aberto um corredor marítimo para ajuda humanitária”, refere-se na nota.
A organização defende que os navios que participam na missão têm o direito à liberdade de navegação e à passagem humanitária, ao abrigo do direito internacional, estando os participantes protegidos pela Convenção de Genebra.
Atendendo ao “historial de intervenções anteriores das forças israelitas contra este tipo de ações humanitárias, a delegação portuguesa deu conhecimento desta missão ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português”.
“O cerco marítimo a Gaza é ilegal. A entrega de ajuda humanitária é um imperativo moral”, afirmam.
A ativista sueca Greta Thunberg integrou a Flotilha da Liberdade intercetada a 8 de junho pelo exército israelita quando tentava levar ajuda humanitária a Gaza.
Dos 12 ativistas que viajavam a bordo do Madleen, um navio da Frota da Liberdade que pretendia quebrar o bloqueio israelita sobre Gaza e entregar uma quantidade simbólica de ajuda humanitária no enclave, quatro (entre eles Thunberg) aceitaram ser deportados após a interceção do navio pelo exército israelita.
Os restantes ativistas recusaram-se a assinar a deportação voluntária e foram detidos e levados a tribunal para ratificar ordens de expulsão, uma vez que, ao abrigo da lei israelita, quando uma pessoa recebe ordens de deportação, é detida durante 72 horas ou mais antes de ser expulsa do país.
Segundo afirmou hoje a organização, a Flotilha Humanitária integra ativistas e voluntários de vários países, em dezenas de embarcações provenientes de diversos portos no mar Mediterrâneo, "numa ação não violenta que pretende demonstrar que a sociedade civil se recusa a sucumbir ao silêncio perante o genocídio em curso em Gaza”.
A Global Sumud Flotilha associa coordenadores, organizadores e participantes da Flotilha da Liberdade, da Flotilha Sumud do Magrebe, do comboio Sumud Nusantara e do Movimento Global Para Gaza, bem como de outras organizações internacionais.
Outro navio da Frota da Liberdade, o Handala, também foi intercetado pelo exército israelita em 27 de julho.
Uma das tripulantes do Handala, a deputada franco-sueca no Parlamento Europeu Emma Fourreau, escreveu então na rede social X que o navio foi abordado pelo exército israelita a 115 quilómetros da costa de Gaza e que a tripulação atirou os seus telemóveis para a água como medida de segurança.
Israel tem em curso uma ofensiva militar na Faixa de Gaza desde que sofreu um ataque do Hamas em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns.
De acordo com dados divulgados pelas autoridades do enclave palestiniano, a ofensiva lançada por Israel em Gaza já fez cerca de 62.700 mortos.