A zona do Saldanha nunca teve uma casa assim, em que se chega com apetites muito específicos e sai-se com todas as expectativas ultrapassadas. Zahari Markov criou no Banzé uma casa onde os clientes são mimados e onde a cozinha está sempre aberta ao longo do dia. Aqui o espaço disponível só é crítico à noite, ao longo do dia estamos sempre à vontade, o fluxo de entradas e saídas funciona bem. A forma petisqueira está no ADN da casa, há uma profusão de petiscos que ultrapassa a imaginação.
Fazem-se aqui os melhores croquetes de rabo de boi da cidade e vêm em dose tripla, com maionese de Dijon ao lado. Fica-se viciado logo na primeira dentada. O mesmo se pode dizer dos maravilhosos pastéis de bacalhau, também em séries de três e com maionese de alho e ervas ao lado. Configura perdição, acreditem. Nunca dispenso, neste capítulo, o chouriço tradicional no fogo. Vem num tachinho pronto a devorar sem piedade, matéria-prima da melhor qualidade e processamento brilhante.
As artes do chef Luís Barros são gigantes e o foco na satisfação de cada cliente é digno de nota. O vezeiro pica-pau de novilho é inesquecível aqui, graças à grande qualidade da carne e a um molho de carne de fazer crescer água na boca quando vem à memória. São geniais e muito originais as gambas ao alhinho, imersas em molho Thai bastante original, satisfaz muito bem. E não quero deixar de recomendar o banzé no cozido, um mini-cozido servido num tachinho que nos leva ao céu.
Nos pratos principais há um cachaço de maturação de até oito dias que vem fatiado e acompanhado de batatas fritas, que aqui são de comer e chorar por mais. Que o diga Diogo Fernandes, chefe de sala desta grande casa, que não dá a ida pela vinda por mais batatas fritas.
A paletilla de borrego é outra perdição produzida com garbo e magia na cozinha, não conheço melhor. Genial é o bitoque de lavagante, criação exclusiva da casa, com o cunho de delícia extrema.
Há dois arrozes que aconselho vivamente. O arroz de marisco, feito com amor e carinho, cozeduras todas no ponto, e o arroz de robalo da nossa costa e camarão, que nos transporta para a beira-mar e quase nos faz sentir a espuma do mar na rebentação.
Há muitas e boas recompensas doces. A minha favorita é farófias, de textura e consistência inefáveis. O pudim abade de Priscos é também muito bom e cumpre na perfeição o desígnio de nos sentar no Olimpo, onde deuses conspiram com estes mestres que nos assistem, para nos convencer a voltar. Não era preciso, nós voltamos sempre.