Um ano depois da tragédia, que provocou a morte a 229 pessoas, as povoações tentam reerguer-se e as vítimas pedem justiça
José Fernández e o filho estavam há sete horas subidos em cima do telhado de casa, encharcados e a ver como a água do rio Turia subia cada vez mais, quando o helicóptero de salvamento chegou. "Foi como uma luz que apareceu no céu. O rapaz [o resgatador] desceu, preso no cabo, e eu dizia-lhe que não ia poder comigo, que eu peso mais de 100 quilos", lembra José. "Mas pôde! Ainda me doem as costas do aperto que me deu para me levantar!"
Pouco a pouco, José e o resgatador foram içados pela grua do helicóptero de salvamento. Depois, foi a vez do filho. Para trás ficava uma noite de horror e pânico, naquelas que foram as piores inundações de sempre da região de Valência que fizeram 229 mortos.
A casa de José e outras 15 estavam construídas na margem do rio Turia em Manises, a 11 quilómetros de Valência. Só três ficaram de pé.
"Durante a tarde, vimos que o rio tinha mais água do que o habitual, mas nada importante. De repente, a vizinha de cima começou a gritar a dizer que tinha água a entrar em casa."
Quase não tiveram tempo para nada. A mulher, a nora e a neta de cinco anos de José fugiram pela ladeira acima e puseram-se a salvo. José e o filho ficaram para trás para tentar salvar os cães. "Entrei em casa à procura dos cães e a água fechou-me as portas. Foi muito repentino. E como a água estava tão alta, só tive de me agarrar à caleira e subir ao telhado", recorda.
Ali ficou, com o filho, até às 05h00. Pelo meio, a casa onde estavam caiu e tiveram de se lançar à água para alcançar a casa do vizinho.
"Ninguém imagina o que era aquilo, o volume de água, a força... era impressionante. Arrancou uma figueira de 30 ou 40 anos, onde estava agarrado um vizinho, a sete ou oito metros de nós. A água levou-o. Encontraram-no três ou quatro dias depois, morto."
No cimo da ladeira, os bombeiros e o resto da família assistiam a tudo, impotentes. Era impossível, com os meios terrestres que tinham, poder fazer o que fosse para os salvar.
"Um bombeiro disse à minha mulher que se despedisse de nós. Porque as casas estavam a cair e eles viam tudo", lembra José. "Disse-lhe que nós a ouvíamos, que falasse connosco, que nos dissesse que estava ali e que se ia lembrar de nós para sempre".
Até que chegou o helicóptero. Javier Lozano, comandante de helicópteros de resgate há mais de 20 anos, estava de serviço nessa noite. Com a equipa, foram os únicos a sobrevoar a região. "A nossa ideia inicial era tentar iluminar as zonas onde estavam a trabalhar os bombeiros e as equipas de emergência para os ajudar a ver e a localizar os que estivessem em piores condições com a nossa câmara de infravermelhos", conta Javier.
Mas, assim que levantaram voo, o cenário mudou.
"Vimos que estava tudo às escuras, havia um silencio incrível... e de repente começámos a ver luzes de telemóveis a pedir ajuda. Centenas de luzes. Ficámos alucinados, ali tivemos a dimensão do que tinha acontecido. Não sabíamos o que fazer."
Era de noite, não havia luz e estavam sobre um terreno com inúmeros obstáculos. "O que fizemos foi localizar os que estavam em perigo e tentar descer pouco a pouco, de forma a evitar os postes de alta tensão, as antenas e os cabos."
Acabaram por salvar 11 pessoas e um cão. Entre elas José e o filho. "Restavam-lhes cinco minutos. Havia tanta quantidade de água que ativámos as boias do helicóptero para o caso de cairmos. Se demorássemos um pouco mais já não estavam aqui."
Voaram com muito pouco combustível para poderem levar mais peso. Fizeram três viagens ao aeroporto: deixavam os resgatados, reabasteciam e voltavam ao terreno. Assim, durante 12 horas. Antes de aterrarem, já de dia, a vista era ainda mais dantesca. Terrenos alagados, casas destruídas, torres de carros empilhados e uma pergunta sem resposta: "Como foi possível?"
"O meu pai já se estava a afogar"
A mesma pergunta que Rosa Álvarez ainda faz, um ano depois. Naquele 29 de outubro, como todos os dias, o pai, de 80 anos, foi a casa de Rosa, perto das 16h00, para passear a cadela. "Essa foi a última vez que o vi."
Em Catarroja não tinha sequer chovido. "Era um dia cinzento e com vento, muito vento. Mas nada que nos fizesse suspeitar do que ia acontecer. Por isso toda a gente estava a fazer vida normal".
Durante a tarde começaram a chegar notícias de que o rio tinha transbordado, mas isso não era algo invulgar em Catarroja e pensaram que seria igual a tantas outras vezes. Quando, pouco depois das 19h00, a água começou a invadir as ruas e a arrastar tudo, perceberam que algo de errado estava a acontecer. O marido e a filha de Rosa tentaram resgatar o avô mas já não conseguiram atravessar as duas ruas que separam as duas casas.
"Era inviável porque a água já arrastava os carros como se fossem palhas ou ramos de árvore."
Na casa que foi do pai, vazia, apenas com os azulejos de cor azul a servirem de decoração, ainda são visíveis as marcas que deixou a água, a cerca de dois metros de altura. E um buraco, entretanto tapado, que a força da água fez numa das paredes.
"Falei com o meu pai a primeira vez às 18h55 e a última às 19h55. Disse-lhe para ir para o terraço e o meu pai dizia-me que não podia abrir a porta. O meu pai já se estava a afogar."
No dia seguinte, perto das 06h00, quando a água baixou e puderam ir ver o que tinha acontecido, encontraram uma casa destruída mas nem rasto do pai de Rosa. Procuraram à volta, perguntaram aos vizinhos, mas ninguém sabia nada. Até que a voz em surdina de uma vizinha e um olhar de soslaio em direção ao parque da Albufeira, a 600 metros dali, chamaram a atenção de Rosa que foi a correr para lá.
"Ali estava o meu pai, envolvido em toda a porcaria que a corrente arrastou, de costas, com o relógio do meu avô posto. E essa imagem acorda-me quase todas as noites. Ninguém merecia morrer como ele morreu. Por um simples alerta que nunca chegou."
Falta de avisos
Naquele dia choveram mais de 700 litros por metro quadrado na comunidade valenciana, o mesmo que costuma chover em Aveiro num ano inteiro. "Não havia registos em nenhuma localidade de uma intensidade de chuva tão alta em tão pouco tempo", explica José Miguel Viñas, físico e meteorologista há mais de 20 anos.
Há cerca de uma semana que as previsões já apontavam para uma situação potencialmente grave. "Sabia-se há dias que ia acontecer um episódio importante de chuvas. Era uma situação propícia para que nalgum lado de Valência se dessem chuvas de intensidade muito elevada ou torrencial."
A dificuldade deste tipo de previsões é delimitar a área onde podem acontecer. A localização mais precisa chegou nessa mesma manhã. "No famoso dia 29 de outubro, nas primeiras horas da manhã, ativou-se o alerta vermelho numa zona da província de Valência. Já era claro que ali iam acontecer as chuvas mais intensas. Duas horas depois ativou-se o alerta vermelho para as zonas onde efetivamente mais choveu."
A agência de meteorologia estatal lançou o primeiro aviso às 07h36 da manhã. A Universidade de Valência fechou as portas e disse aos estudantes e trabalhadores para ficarem em casa. Vários municípios da região interromperam as aulas, muitas empresas disseram aos trabalhadores para ficaram em teletrabalho. Mas a maioria fez vida normal porque a Generalitat Valenciana não emitiu qualquer aviso e demorou até às 20h11 a enviar o alerta à população.
Nessa altura, já 156 pessoas tinham morrido e a maioria dos municípios já estavam completamente inundados, mesmo aqueles onde não tinha chovido.
"Quando chove muito numa zona, e mais no Mediterrâneo, onde há grandes relevos, muito escarpados, barrancos, zonas onde em muito poucos metros há muito desnível, a água tem uma tendência natural para escapar dos leitos fluviais", explica Viñas. "Às vezes, a zona onde se produz a inundação pode ser perfeitamente um lugar onde nem choveu, como aconteceu a 29 de outubro."
Soube-se depois que, durante as piores horas da tempestade, Carlos Mazón, presidente da Generalitat, estava num almoço com uma jornalista. Esteve incontactável durante a maior parte da tarde e só chegou à reunião do comité de emergência 17 minutos depois de ter sido enviado o alerta.
Horas antes, tinha tranquilizado a população com uma informação que se viria a revelar falsa: "De acordo com a previsão o temporal dirige-se para a Serra de Cuenca nestes momentos e espera-se que perto das 18h00 diminua a sua intensidade no resto da Comunidade Valenciana", disse o presidente nessa manhã.
Caso nos tribunais
O caso está na justiça e a magistrada do Tribunal número 3 de Catarroja promete chegar até às últimas consequências. Os autos são contundentes: a juíza considera que a maioria das mortes teriam sido evitáveis, que houve negligência por parte da Generalitat e que o alerta, além de tardio, continha informações erradas.
Quando o aviso chegou, Rosa e a família viam a água alcançar o primeiro piso do prédio. Do lado de fora, havia carros a embater nas garagens, ramos a serem levados pela água e dezenas de pessoas subidas aos para-sóis metálicos de um supermercado para escaparem da água. "Evidentemente, não esqueço nem perdoo e sei muito bem quem são os responsáveis", atira Rosa.
Essa frase, "não esqueço nem perdoo", está agora escrita na parede exterior da casa do pai que serve também de sede à Associação de Vítimas mortais da DANA do 29-O que entretanto fundou.
"Na associação temos vários objetivos. Um deles é a justiça. Outro a memória e outro a reparação. Espero que cumpram o máximo de anos de prisão que tiverem de cumprir", explica Rosa.
"Isto não se pode repetir. Não se deve voltar construir em zonas inundáveis, não se devem ignorar alertas, devem fazer-se planos de emergência. Isto é o modelo do que jamais deve voltar a acontecer."
A ex-conselheira de Interior e Justiça do Governo valenciano, Salomé Pradas, está imputada. Carlos Mazón, o presidente, está blindado enquanto tiver imunidade parlamentar. A juíza ofereceu-lhe a possibilidade de prestar declarações de forma voluntária, mas este declinou.
Nas ruas, de há um ano para cá, há um clamor que pede a demissão de Mazón. Nos 12 meses que passaram houve outras tantas manifestações, a última das quais na mesma semana do aniversário, que reuniu mais de 50 mil pessoas.
"Ninguém em Valência quer o senhor Mazón como presidente. Ele foi eleito democraticamente e, democraticamente, o povo valenciano está a pedir-lhe que se demita. Exigimos que se faça justiça. O senhor Mazón, um ano depois, continua a receber o ordenado, continua no seu posto e continua a rir-se das vítimas", diz Soraya García.
Soraya faz parte das 200 famílias que perderam alguém nesta tragédia. O companheiro, Sérgio Navarro, estava na estrada, a caminho de Valência desde Madrid, quando a enxurrada o surpreendeu. O camião que conduzia levava 42 toneladas de carga, mas nem isso travou a força da água.
"Que quantidade de água tem de cair e com que força? De que forma tem de cair a montanha para conseguir arrastar um camião de 42 toneladas? Arrastou-o como se fosse papel e estampou-o contra o muro", descreve Soraya, que ainda hoje não sabe o que aconteceu.
"A informação que temos é de uns vizinhos que estavam ali, que viram como a montanha desabou, que caiu uma onda imensa, muito rápida, um tsunami de troncos, lama, árvores... e depois a água. O vizinho viu como ele acendeu as luzes de emergência e a água engoliu-o. Não lhe deu tempo para nada", conta.
O corpo de Sérgio apareceu uma semana depois, a cinco quilómetros do sítio onde estava o camião. A última mensagem que enviou a Soraya era um grito de ajuda que Soraya não consegue tirar da cabeça: "Estou em Ventamina, em direção a Madrid, liga ao 112."
Soraya também não sabe por que razão Sérgio decidiu ir por uma estrada nacional no caminho de volta a casa. Mas sabe que ninguém o avisou do que podia acontecer e que isso foi fundamental naquela noite. "Os alertas, as possibilidades de inundações e de uma DANA com essas dimensões conheciam-se há seis dias. Eram mortes totalmente evitáveis", acusa.
"O senhor Mazón diz que está centrado na reconstrução, mas a nós ninguém nos reconstrói. Como posso superar a falta do meu companheiro de vida, se nem sequer pude fazer o luto em condições?"
Lenta reconstrução
Um ano depois, a vida nas zonas afetadas está longe de voltar à normalidade. Catarroja, Alfafar e Paiporta, três dos municípios mais castigados, ainda têm cicatrizes visíveis.
Nas ruas, as obras sucedem-se a cada passo: estradas a serem construídas, casas a serem recuperadas, grades a interromper o caminho e a avisar de que ainda não é seguro passar para o lado de lá. Há prédios onde as marcas de água ainda persistem, garagens ou arrecadações onde ainda há restos de lama e pontes derruídas. E tudo avança a um ritmo lento.
"A velocidade de reconstrução de Paiporta vai ser feita mais a pensar nas pessoas do que em acabar com as obras a correr. Tudo tem de ser feito tendo em conta que as pessoas têm de continuar a viver, a ir aos seus comércios e vai ser preciso tempo", conta Vicent Ciscar, presidente da Câmara de Paiporta.
"Estivemos os três primeiros meses a limpar garagens, tivemos que retirar 13.000 veículos, repor coisas muito básicas como a recolha de resíduos urbanos, porque perdemos mais de 800 contentores de todas as cores..."
Nas três semanas seguintes à inundação, 200.000 toneladas de lodo foram retiradas de Paiporta. Não se salvou uma única rua. "Temos de trabalhar em todas as ruas de Paiporta e limpar a rede de saneamento básico. As pessoas limparam a lama para dentro das sarjetas e isso fez com que se endurecesse lá dentro e neste momento ainda não funcionam a 100%. Há quinze quilómetros de estradas que se têm de abrir e voltar a reconstruir", explica Císcar.
Segundo os dados do Ministério de Política Territorial, mais de 16.000 milhões de euros foram destinados à reconstrução dos territórios afetados pela DANA. Desses, mais de 6000 milhões já foram entregues, com Paiporta à cabeça, que recebeu com 700 milhões de euros.
Trinta e quatro milhões de euros foram dedicados a reforçar e subir das margens do rio, a elevar os passeios e a refazer pontes entre Paiporta e Picanya. Renovou-se ainda parte da rede eléctrica e da rede de saneamento básico.
A enxurrada acabou com 100% dos estabelecimentos comerciais que existiam em Paiporta e, desses, já reabriram 85%. E enquanto se reconstrói a parte material, tentam curar-se as feridas emocionais de uma população destruída.
"Conseguimos um pouco de normalidade, mas o ânimo tem dias... lamentavelmente tivemos que passar o luto de 46 pessoas que morreram aqui, em Paiporta, e outras 10, que sendo daqui, morreram noutras povoações", lamenta o presidente da Câmara.
"As pessoas têm vontade de que tudo volte ao normal, de começar as atividades quotidianas, as festas, mas vai ser muito difícil esquecer, pelo menos pelas gerações que viveram isto."
Um ano depois, Ciscar lamenta que ninguém tenha assumido nenhum tipo de responsabilidades políticas, principalmente o presidente da Generalitat, Carlos Mazón. "Nem ele estava onde tinha de estar e também não sabemos o que estava a fazer, porque não o disse. E também está claro que as pessoas em quem ele confiou falharam estrondosamente. Só por responsabilidade, devia ter tomado alguma decisão."
E volta a frisar a falta de previsão, que acabou por custar vidas: "O que é lamentável é que, mais acima, já estava a acontecer tudo às 12h00 e ninguém nos avisou. A quantidade de água que veio, não havia forma de a parar, mas se o aviso chegasse a tempo podiamos pedir à povoação que se subisse aos pisos altos, enfim..."
Depois de Paiporta, Catarroja é a segunda localidade com mais vítimas mortais: 25. "Estamos num processo de luto que ultrapassa o individual, é um luto coletivo", diz a presidente da Câmara de Catarroja, Lorena Silvent. "Temos de ir aceitando que o que conhecíamos até agora já não vai voltar a ser igual. E o mais duro, sem dúvida, é a perda de pessoas. As vítimas, os familiares."
Foi ali, em julho de 2025, que milhares de pessoas saíram à rua para pedir a demissão do presidente da Generalitat, Carlos Mazón, na primeira manifestação convocada no epicentro da tragédia. "O problema não é o que fez. É o que não fez", insiste Silvent. "Há uma responsabilidade direta? Sim. É uma responsabilidade política? Do meu ponto de vista, sim. É uma responsabilidade judicial? Logo se vê. Mas o que está claro é que essa emergência foi coordenada na Generalitat. E mesmo que tenhas delegado essa função, essa função é tua e tudo o que acontece é culpa tua ou graças a ti. Isto é assim. Há uma responsabilidade que vai ter que ser assumida."
A TSF pediu uma entrevista com Carlos Mazón, mas até ao momento não obteve resposta.
Longe da normalidade
As obras de reconstrução fazem-se a passo lento, como no resto das localidades, mas já se conseguiu recuperar a totalidade dos estabelecimentos comerciais que tinham sido levados pela tempestade. Ali, como em Paiporta, a visão de futuro está agora na prevenção.
"Se isto voltar a acontecer, temos de tentar que não seja com perdas de vidas. Temos de melhorar tanto a nível de segurança, como de avisos, de autoproteção e ver de que maneira podemos ter cidades mais resilientes", indica Silvent.
"Por exemplo, não pode haver caves nos novos edifícios, as garagens têm de estar à superfície e temos de pensar em sistemas de autoproteção com escadas interiores e na fachada, tetos abatíveis..."
Vicente Ciscar alinha pelo mesmo discurso: "Temos a oportunidade de construir um município mais resiliente. Porque o que é inquestionável é que temos aqui as alterações climáticas e temos de pensar em soluções para construir de outra forma."
365 dias depois, o que fica para além do luto e das perdas materiais é a onda de solidariedade que se viu nos dias seguintes. No dia 1 de novembro de 2024, Dia de Todos os Santos, em vez das tradicionais romarias ao cemitério, na região de Valência faziam-se procissões para as zonas afetadas.
As estradas estavam cortadas, mas milhares de voluntários iam a pé para onde fizessem falta. Levavam o que podiam nas mãos, em mochilas ou em carrinhos de mão: baldes, garrafões de água, comida, roupa e sapatos, vassouras, pás, picaretas... tudo o que pudesse servir para ajudar.
Rosa Álvarez não esquece aqueles dias.
"Sentimo-nos muito aconchegados. No dia seguinte estavam aqui muitas pessoas e a partir daí foi um rio continuo de empatia, de solidariedade e de apoio. A cidadania esteve à altura."
O tempo ainda não apagou as marcas que a água deixou, nem nas infraestruturas, nem no ânimo das povoações. Ali tenta-se recuperar a normalidade, mas as obras de reconstrução são lentas e algumas famílias ainda não voltaram a casa. Cada dia de chuva é visto com angústia e desconfiança por milhares de pessoas que ainda vivem em estado de alerta.
E, no centro da tragédia, um ano depois, está o processo judicial que tenta apurar as responsabilidades do que aconteceu e trazer alguma justiça às 229 pessoas que perderam a vida naquele dia de final de outubro.