Ambos os candidatos tentaram marcar as suas diferenças em relação ao opositor
A gravidade da situação da justiça e a necessidade de explicações do Ministério Público sobre a Operação Influencer aproximaram esta quarta-feira António José Seguro e Luís Marques Mendes, que se afastaram na reforma da legislação laboral e no equilíbrio do sistema político.
No debate para as presidenciais que opôs esta noite Luís Marques Mendes, apoiado pelo PSD e CDS-PP, e António José Seguro, apoiado pelo PS, foram mais os temas em que concordaram do que os em que discordaram, tendo ambos os candidatos tentado marcar as suas diferenças em relação ao opositor.
A justiça, concretamente a Operação Influencer e as escutas ao antigo primeiro-ministro socialista António Costa hoje divulgadas, ocuparam largo tempo do debate, com Seguro a mostrar-se "preocupadíssimo" e enfatizando que passados mais de dois anos ainda não surgiu "nenhum facto" que justifique o parágrafo da PGR de que Costa estava a ser investigado.
"Dois anos, num caso destes, é uma situação muito grave e aquilo que vamos tendo conhecimento, como hoje aconteceu na revista Sábado, são transcrições de escutas que não têm a ver com aquele processo e com aquele facto", criticou, considerando que alguém tem que "tem que vir responder".
Para o candidato apoiado pelo PS, é o procurador-geral da República que tem de dar respostas porque António Costa era primeiro-ministro, "o país perdeu um Governo" e passou a ter "uma situação de instabilidade" e "ninguém responde".
Na mesma linha, Marques Mendes considerou que "a justiça está doente" e que este caso dá razão à necessidade de um pacto nesta área para o qual prometeu dar o pontapé de saída no seu primeiro Conselho de Estado, caso seja eleito em 18 de janeiro.
O candidato apoiado pelo PSD concordou com o seu opositor e disse ser "inqualificável que ainda não esteja encerrada" a investigação da Operação Influencer, anuindo quanto à necessidade de o Ministério Pública dar explicações.
"Também há outra coisa absolutamente lamentável. Quando foi da Operação Influencer foram descobertos 75 mil euros em notas, escondidos no gabinete do chefe de gabinete do primeiro-ministro. Ninguém até hoje deu uma explicação cabal e definitiva", criticou.
Matéria em relação à qual os dois candidatos mostraram uma divergência foi a reforma da legislação laboral.
Marques Mendes disse não perceber "a tendência" que Seguro já tinha manifestado em não aceitar este decreto caso esta chegasse a Belém nos exatos termos em que está neste momento.
"Um Presidente da República só se pronuncia sobre se veta, promulga ou envia ao Tribunal Constitucional quando lhe chega o texto definitivo da lei. Tenho suficiente experiência para saber que o documento que existe neste momento não será nada, nada, nada parecido com o documento final", disse o candidato apoiado por PSD e CDS.
Seguro, por seu turno, questionou a pertinência desta reforma, considerando que se ela fosse assim importante, durante a campanha o PSD devia tê-la apresentado "com clareza e transparência" aos portugueses, coisa que disse que "não o fez", acrescentando que "compete ao Governo descalçar esta bota porque foi ele que a calçou".