O advogado Paulo Penedos, co-arguido no processo 'Face Oculta', insinuou que um funcionário da REN, Andrade Lopes, talvez devesse ser «arguido como eu».
Em declarações ao Tribunal de Aveiro, onde está a decorrer a oitava sessão do julgamento, Paulo Penedos disse que «toda a informação existente nos autos mostra bem que o detalhe de muitas questões não têm como fonte Paulo Penedos ou José Penedos, mas sim Andrade Lopes (funcionário da REN que em 2009 tinha a seu cargo o caso da central da Tapada do Outeiro)».
O advogado respondeu desta forma a uma questão do juiz presidente do colectivo, Raul Cordeiro, após ter sido confrontado com a escuta de uma conversa telefónica entre Manuel Godinho e o seu funcionário Namércio Cunha, igualmente arguido, onde se fala da proposta a apresentar sobre os trabalhos a realizar nas instalações da REN na Tapada do Outeiro.
Nesta conversa, Godinho pergunta se percebeu o que Andrade Lopes pretendia, ao que Namércio Cunha responde que «ele da parte das cinzas só pretende saber preços, mas que tem é que se preparar as coisas e proporcionar para que elas sigam para cima».
«Esta conversa mostra bem que falta alguém nos autos», afirmou Paulo Penedos, referindo-se ao «engenheiro Andrade Lopes», que à data dos factos desempenhava funções no Departamento Monitorização do Sistema Produtor da REN.
«Comigo, [Manuel Godinho] tem informações sobre a marcha dos processos, mas sem qualquer detalhe sobre o fundo da questão. Quem transmite as informações sobre o processo de decisão é Andrade Lopes», acrescentou Paulo Penedos.
Na sessão da manhã, o advogado voltou a ser confrontado com várias escutas onde faz referências indirectas ao então presidente da REN, o seu pai, José Penedos, admitindo, mais uma vez, que algumas destas referências eram «para tranquilizar Manuel Godinho».
«Visto assim, claro que isto tem mau ar», afirmou, justificando estas atitudes com a necessidade de responder «à pressão exercida» por Manuel Godinho.
«Isto sem mais, com certeza que me envergonha. Agora, é preciso contextualizar na relação que tinha com o meu cliente. O senhor Godinho não queria saber de detalhes técnicos. Só queria os camiões carregados. Face à pressão e à urgência em que estava, ía fazendo estas referências indirectas», esclareceu.
No início da sessão, o juiz presidente esteve a analisar vários documentos apresentados por Paulo Penedos para demonstrar que na ligação com a REN não teve acesso, nem usou informação privilegiada, fornecida pelo seu pai.
«Nas suas conversas com Manuel Godinho não se evidencia o saber técnico que agora mostrou», nota o magistrado.
Paulo Penedos coloca-se na posição dos investigadores e admite que as escutas das conversas telefónicas entre si e Manuel Godinho «têm um mau ar», realçando, porém, que os documentos que apresentou, agora, «ajudam a compreender o contexto».
O interrogatório foi interrompido cerca das 12:45 e será retomado ao início da tarde.