Vida

Nem as luzes de Natal ajudam ao brilho nas caixas registadoras

A Câmara de Lisboa gastou 250 mil euros em iluminações de Natal. A maioria dos comerciantes das lojas da baixa diz que nem as luzes ajudam às vendas e espera que este fim-de-semana possa ter mais brilho e barulho nas caixas registadoras.

É ao som das diferentes músicas da baixa de Lisboa que se acendem as luzes de Natal. Patrícia Pereira, 26 anos, toca acordeão no início da Rua do Carmo, que este ano ficou de fora das iluminações.

A acordeonista diz que as "luzinhas" são sempre um incentivo nem que seja «a um sorriso, porque estamos em crise e está a ficar complicado para todos».

Na Rua Augusta a música é outra, com as notas a surgir desafinadas do saxofone, mas a crise a mesma. A vendedora de flores Deolinda Ramos considera que as luzes de Natal estão «muito bonitas», mas nem isso ajuda a ter freguesia.

Mais entusiasmado está um angolano que vive em Braga e passeia em Lisboa. O Príncipe Venâncio é cantor e afirma que não entra mais nas lojas só porque as ruas estão enfeitadas, tudo depende do dinheiro que tem no bolso. Mas tem uma certeza: gosta muito da bola de Natal gigante e luminosa que está no Rossio.

Na mesma zona, a Pérola do Rossio, uma loja tradicional que vende cafés e chás está vazia. Atrás do balcão, António Magalhães sublinha também que o mais importante para o comércio é mesmo o dinheiro que as pessoas têm para gastar.

Isidro Moreira, empregado numa loja de fotografia na Rua do Ouro, é mais um dos comerciantes que não acredita que as luzes de Natal façam as pessoas ter mais vontade de consumir.

Na loja de roupa interior mesmo em frente, a empregada Joana Barroso tem a mesma opinião e diz que por vezes o trânsito daqueles que se deslocam à baixa apenas para passear e ver as luzes até prejudica as vendas.

Uns metros depois, na discoteca Amália, a "menina" Rosa, que trabalha no centro de Lisboa desde os 14 anos, explica que nunca assistiu a tempos como estes. «Não há dinheiro, dizem eles que é a crise, não sei o que é...»

Numa transversal da Rua Augusta, Armindo Leite considera que é difícil pesar na balança os benefícios para o comércio da iluminação das ruas, mas deixa um lamento: «Há três dias que não se vende nada. Sabe o que é nada? É nada».

Maria Júlia Gata, com 83 anos, gosta de passear na baixa, mas é contra as luzes de Natal. Todos os anos costuma oferecer livros, mas desta vez a crise obriga-a a deixar as leituras para tempos melhores.

Na baixa de Lisboa, as luzes já brilham, mas as carteiras continuam fechadas.