Na mensagem de Ano Novo, o Presidente da República pede rigor e transparência para evitar regressos ao passado. Cavaco Silva dedica também alguns minutos a recusar a cruzada populista contra os partidos e a pedir um esforço de pedagogia democrática que deve começar pelo exemplo de quem anda na política.
O Presidente da República interpelou hoje os portugueses e, em especial os políticos, a prepararem o período pós-eleições, sublinhando que não é só no dia a seguir às eleições que se constroem soluções governativas estáveis.
«Em devido tempo, chamei a atenção do país para prepararmos o período 'pós-troika'. Agora interpelo os portugueses - e, em especial, os políticos - a prepararem o período pós-eleitoral», disse o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, na tradicional mensagem de Ano Novo, que dirigiu esta noite aos portugueses.
Centrando o essencial da mensagem nas legislativas que se deverão realizar depois do verão, Cavaco Silva defendeu que o período pós-eleições deve corresponder a um tempo de confiança no país, quer no plano interno, quer no plano internacional.
«Existem razões de esperança no futuro. Mas a esperança não se proclama com meras palavras», advertiu, considerando que a esperança constrói-se com «sentido de interesse nacional», atitudes e gestos concretos que contribuam efetivamente para resolver os problemas reais do país.
Na sua intervenção, Cavaco Silva fez ainda referência à situação do país, reiterando que «Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer», que deve ser feito em conjunto, «com abertura e diálogo entre as diversas forças partidárias», contando com o contributo dos agentes económico e dos parceiros sociais.
Por outro lado, acrescentou, Portugal está sujeito às exigências de disciplina orçamental e de sustentabilidade da dívida pública, não podendo o país regredir para uma situação semelhante àquela a que chegou em 2011, quando foi obrigado a recorrer a auxílio externo de emergência.
«Só o rigor e a transparência na condução da política nacional permitirão a melhoria continuada das condições de vida das pessoas», defendeu.
O combate à corrupção, tema que já foi objeto de várias intervenções do Presidente da República, foi igualmente referido na mensagem de Ano Novo, com Cavaco Silva a considerar que esse combate é «uma obrigação de todos».
O chefe de Estado deixou também uma nota sobre «os momentos particularmente difíceis» que muitos portugueses viveram em 2014, não obstante «os sinais de esperança» que começaram a surgir.
«Não nos podemos deixar abater pelo desânimo nem cultivar o pessimismo. Devemos olhar o futuro com confiança renovada», referiu, insistindo que «é preciso criar condições políticas» para a reforçar a tendência que já se verifica de crescimento da economia, diminuição do desemprego e recuperação do investimento, além de não se desperdiçar o «trunfo» que são os fundos europeus colocados à disposição do país.
Mas, vincou, apesar dos sinais positivos, a situação das famílias atingidas pelo desemprego e pela pobreza e a correção das desigualdades sociais devem continuar a merecer particular atenção da parte de todos os agentes políticos.