Na comissão parlamentar de inquérito ao Banif, o ex-presidente do banco, Jorge Tomé, criticou a resolução do Banif considerando que o banco foi dado ao Santander.
Na audição parlamentar, questionado pelo deputado do PSD Carlos Abreu Amorim, o antigo administrador do Banif voltou a considerar que "não consegue perceber" o modelo da resolução porque esta "foge de qualquer quadrante normal que se possa ter".
Jorge Tomé confirmou "ação indireta" do Santander antes da resolução dizendo que clientes madeirenses terão sido aconselhados a transferir depósitos para Santader, porque o Banif "ia acabar em dezembro".
Miguel Tiago do PCP tinha perguntado se é verdade que, "dias antes da resolução", houve "levantamento e liquidação de contas com ação ainda que indireta de agentes comerciais do Santander?" Tomé confirmou um movimento "algo anormal" na Madeira afirmando que foi uma "ação extensiva", mas com "impacto limitado".
"Houve gestão dolosa no Brasil"
Jorge Tomé considerou que o Brasil, a par com o setor imobiliário e o colapso do BES, foram "as grandes perdas" que prejudicaram o Banif.
O ex-administrador diz que estão a correr processos judiciais e que "o dossiê do Brasil justifica uma outra comissão de inquérito". Jorge Tomé adianta que "só se aproveitou" 10% dessa carteira de créditos e diz que chegou a recear que o Banif "implodisse" via Brasil. Considera ainda muito "otimista" o cenário que previa que o Banif devolvesse ao Estado 700 milhões de euros.
Para Jorge Tomé se o Estado saísse do Banif, recuperando os CoCos (empréstimo convertível em capital) e cerca de 550 milhões de euros, já "teria sido um excelente negócio para o Estado".
Atraso da DG Concorrência e notícia da TVI foram "mistura explosiva"
Na leitura de Jorge Tomé, o atraso da Direção-Geral da Concorrência (DG Comp) em aprovar o plano de reestruturação (que o Banco de Portugal tinha recebido "com entusiasmo") e o episódio da notícia da TVI, depois desmentida, de que o Banif seria integrado na Caixa Geral de Depósitos, foram a "mistura explosiva" que conduziu a uma "venda a saldo com forte bónus adicional".
"Depois da notícia da TVI, na semana de 14 a 18 de dezembro, o Banif perdeu 960 milhões de euros de depósitos, 16% da sua carteira de depósitos", sublinhou o antigo administrador do banco.
Jorge Tomé defende que "se não tivesse havido o episódio TVI, o Banif teria uma situação normal de liquidez tal como sempre teve." Mas vincou que num negócio que "assenta na confiança, o pilar do equilíbrio da liquidez ruiu entre 14 e 18 de dezembro, por causa da notícia da TVI a 13 de dezembro".
Na audição que decorre, Jorge Tomé, que dispunha de 15 minutos para uma intervenção inicial, ocupou mais de duas horas numa longa exposição muito crítica da resolução.
O antigo administrador do Banif garantiu que DG Comp aprovou um compromisso do Banif com metas definidas por esta instituição europeia e que, garante Jorge Tomé, o Banif "cumpriu a régua e esquadro".
O antigo presidente do Banif diz que as negociações foram "muito duras" e que só "por má-fé" a DG Comp pode dizer que "não aprovou" um compromisso que, depois seria posto de lado pelo novo responsável do organismo.
Jorge Tomé também renovou as críticas à forma como as instituições europeias trataram o Banif. "Logo na segunda reunião (com a Troika) disseram-nos que não havia dinheiro para o Banif", afirmou o antigo administrador do banco.
Tomé voltou a acusar o Banco de Portugal de um "volte-face", ao avançar para a resolução depois de ter apoiado o programa de reestruturação apresentado em setembro de 2015.
Recordou que ainda que "mesmo que o Banif perdesse o estatuto de contraparte junto do BCE, podia passar a contraparte do Banco de Portugal, encontrando aí a "liquidez adicional, porque tinha colaterais para isso". Jorge Tomé sublinhando que o mesmo foi feito pela banca grega.