Economia

BCP passa de lucro para prejuízo de 251 Milhões

Nuno Amado Miguel A. Lopes / Lusa

O maior banco privado português registou um resultado líquido negativo de 251,1 milhões de euros entre janeiro e setembro.

O resultado negativo dos primeiros nove meses do ano contrastam com o lucro de 264,5 milhões de euros em igual período do ano passado.

"Os resultados contabilísticos foram muito afetados pelas dotações extraordinárias que fizemos para a carteira de imparidades. Trata-se de itens não habituais e não recorrentes", salientou o presidente Nuno Amado na conferência de imprensa de apresentação das contas, em Oeiras.

Este ano, nos primeiros nove meses, o BCP constituiu mais de 1.000 milhões de euros de imparidades, sobretudo para fazer face ao crédito malparado, no valor 816,7 milhões. O presidente do BCP considerou hoje que 400 milhões de euros são um "reforço extraordinário de provisões" e que não espera voltar a repetir.

Aliás, na apresentação de resultados, Amado fez questão de frisar que "sem itens não habituais" -- perdas na desvalorização dos fundos de reestruturação empresariais e reforço de imparidades, parcialmente compensados por ganhos na venda da operação Visa -- o resultado até setembro teria sido de 74,5 milhões de euros.

Nuno Amado admitiu hoje aos jornalistas que o BCP deverá fechar o ano com um resultado líquido negativo, tendo em conta que "o acumular [de prejuízos] em três trimestres já é relevante", mas garantiu que 2017 será diferente: "Queremos voltar aos lucros a partir do primeiro dia do próximo ano", afirmou.

Quanto à atividade internacional do BCP, no total o resultado líquido conseguido nessas operações foi de 134,8 milhões de euros, abaixo dos 149,3 milhões em igual período de 2015, sendo o principal contributo o da Polónia.

Olhando para os principais indicadores financeiros do banco, em termos consolidados, o produto bancário caiu 15,3% em termos homólogos para 1.571,9 milhões de euros, apesar do aumento da margem financeira de 3,5% para 907 milhões de euros, suportada pelo negócio em Portugal.

As comissões caíram 3,4% para 481,1 milhões de euros, com o BCP a dizer que a queda refletiu a evolução negativa registada na atividade internacional, uma vez que em Portugal as comissões subiram 2,8% para 343,2 milhões de euros.

Nos outros proveitos de exploração, o banco teve uma queda de 61,8% para 183,8 milhões de euros, o que segundo o BCP, se deve a, por um lado, no ano passado ter sido beneficiado com mais-valias de dívida pública portuguesa e, por outro lado, de este ano ter assumido maiores contribuições para fundos de resolução bancários, ainda que também a operação Visa tenha gerado ganhos (91 milhões).

O BCP fechou ainda setembro com uma redução de 5% de custos operacionais para 722,4 milhões de euros, com os gastos com pessoal a descerem 4,6% para 410,4 milhões, em ambos excluindo custos de reestruturação.

Quanto ao balanço, do lado do ativo, o crédito a clientes (bruto) caiu 6,1% para 52.610 milhões de euros, com a concessão de empréstimos na atividade em Portugal a descer 4,7% para 40.291 milhões de euros.

O presidente do BCP disse hoje que se vive uma "dicotomia" na concessão de crédito no BCP, com acelerada redução nos setores ligados à construção e imobiliário, até por imposição dos reguladores, mas que "existe já um princípio de retoma nos setores mais produtivos e no comércio".

Quanto ao crédito vencido há mais de 90 dias (ajustado de operações em descontinuação), este caiu de 7,4% em setembro de 2015 para 7,2% este ano, segundo o BCP, que acrescenta que o rácio de crédito em risco no crédito total desceu também ligeiramente de 11,9% para 11,4%.

Já no passivo, os depósitos de clientes totais caíram 0,5% para 48.937 milhões de euros, sendo estes ajustados do impacto das alterações no Banco Millennium Angola.

Por fim, as contas do banco mostram que este reduziu o recurso ao financiamento do Banco Central Europeu (BCE) para 4,9 mil milhões de euros em setembro, comparando com 5,9 mil milhões de setembro do ano passado, enquanto o rácio de solvabilidade 'common equity tier 1' foi de 12,2% com as regras do período intermédio, abaixo dos 13,2% de há um ano, e 9,5% com os critérios completamente executados, que compara com 10% de setembro de 2015.

Sobre as eleições norte americanas, o presidente executivo do BCP, reconheceu hoje ter ficado surpreendido com o resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos (EUA), que determinou a vitória do candidato republicano Donald Trump.

"Foi uma enorme surpresa. Foi mais uma. Espero que não traga efeitos negativos em termos da evolução da economia global", comentou Nuno Amado depois de questionado pelos jornalistas sobre o assunto.

E acrescentou: "Normalmente, olhamos muito para os nossos problemas na Europa, cuja situação atual é muito complexa. O mundo como um todo tem evoluído e há muita gente a sair da pobreza".