Portugal volta a realizar eleições gerais antecipadas pela primeira vez desde 1987, quando o PSD conquistou a maioria absoluta. Encerrava-se um ciclo de governos interrompidos que durava desde o 25 de Abril e estabelecia-se o reinado «laranja». Jorge Sampaio falou: a data decisiva será 17 de Março.
Foram mais de seis anos com o PS ao «leme» de Portugal, precipitando a demissão após as últimas eleições autárquicas.
António Guterres foi a personificação da mudança, em resposta a dois governos de maioria absoluta social-democrata.
Voltando a 1995, a «Nova Maioria» conquistou 43,76 por cento dos votos, deixando para trás o PSD, sob a liderança de Fernando Nogueira, que não foi além dos 34,12.
Foi o único governo minoritário a cumprir uma legislatura.
Em 1999, os socialistas voltaram a ganhar com a única «maioria de bloqueio» da história do Parlamento, que ficou literalmente partido em dois, com 115 deputados do PS e outros tantos da oposição. Esse empate obrigou mais tarde a «jogos de cintura» como o voto do deputado eleito pelo CDS-PP Daniel Campelo para aprovar o Orçamento de Estado dois anos consecutivos.
Foi com o «Orçamento do Queijo», com as várias remodelações e com o desgaste da imagem do governo que se foi fragilizando o «estado de graça» de que Guterres dispôs no primeiro governo.
O primeiro-ministro não resistiu ao mau resultado das autárquicas e viu-se forçado a demitir e a convocar eleições antecipadas.
Uma jovem democracia de legislaturas incompletas
O último executivo minoritário, antes de Guterres, remonta a 1985, presidido pelo PSD e durou menos de dois anos.
Nas legislativas de 1985, o Partido Renovador Democrático, com Ramalho Eanes à proa, revelava-se a terceira força política nacional, a seguir ao PS e ao PSD de Cavaco Silva, que ganhara as eleições com maioria simples.
Dois anos mais tarde, no mês de Abril, o PRD apresenta uma moção de censura no parlamento acusando o Governo de nada ter feito para «resolver os grandes problemas nacionais».
O parlamento apoiou a moção de censura do PRD e o Presidente da República de então, Mário Soares, considerou que «não havia outra solução, consentânea com a vontade popular, que não fosse a dissolução da Assembleia da República e a convocação de novas eleições».
Julho foi o mês das eleições e o PSD saiu com uma maioria absoluta de 50,22 por cento. Apesar de ter provocado a situação, o PRD teve um resultado desastroso, atingindo 4,91 por cento contra os 17,92 de 1985.
O governo nascido destas eleições foi o primeiro que chegou ao fim da legislatura sem sobressaltos desde o 25 de Abril de 1974, sem contar com os governos constitucionais liderados por Maria de Lourdes Pintasilgo, em 1979, e Sá Carneiro, de 80 a 81, que existiram para preparar eleições.
Até 1987, nenhum dos governos eleitos ou nomeados cumpriu os quatro anos de mandato.
A caminhada
Julho 1976 - toma posse o primeiro governo constitucional com Mário Soares à frente de socialistas e independentes.
Janeiro 1978 - após a queda do anterior, Mário Soares continua à frente do novo governo eleito, resultado de uma aliança entre socialistas e o CDS.
Agosto de 1978 - Eanes nomeia um governo liderado por Nobre da Costa que não chegou a durar um mês, porque o seu programa foi rejeitado na Assembleia com votos do PS e do CDS.
Novembro 1978 - toma posse um governo de independentes chefiado por Mota Pinto, que se demitiu em Junho do ano seguinte, na véspera da votação de duas moções de censura que o derrubariam. Eanes dissolveu o Parlamento e entregou a Maria de Lourdes Pintasilgo um governo de gestão para preparar novas eleições.
1980 - o governo de Sá Carneiro eleito nas intercalares de Dezembro de 79 tomou posse, continuando a governar mesmo depois da AD ganhar as eleições gerais até à morte de Sá Carneiro em Camarate.
Setembro 1981 - Pinto Balsemão toma posse como chefe do sétimo governo constitucional.
Março 1982 - Pinto Balsemão demitiu-se num conselho nacional do PSD, alegando falta de apoio de dirigentes do partido. Depois de reforçar a sua posição dentro do PSD, Balsemão voltou ao governo nesse mesmo ano. Tudo parecia encaminhado para uma governação estável até 1984, mas em Dezembro de 82 o primeiro-ministro demite-se e precipita novas eleições gerais, que se realizaram no ano seguinte.
O regresso de Mário Soares e do PS ao governo, em coligação com o PSD ficou conhecido como Bloco Central. A chegada de Cavaco Silva à liderança do PSD, em 1985, motivou a ruptura do acordo e a convocação de novas eleições legislativas.
1987 - 1991 - Cavaco Silva conduz o PSD a nova vitória com maioria absoluta, conquistando 50,6 por cento dos votos.
Nos quatro anos que se seguiram, o governo foi-se desgastando e a própria tensão entre o então Presidente da República, Mário Soares, e o primeiro-ministro, Cavaco Silva, contribuiu para a mudança registada em 1995.