A barbearia foi fundada em 1968 por quatro sócios. Aventino Silva é o único sobrevivente e resistente de um negócio tradicional, no centro do Porto.
Na Barbearia Invicta, na Praça Carlos Alberto, no Porto, cruzam-se várias gerações, novos e velhos, gente com fama e anónimos fiéis.
No 1º andar de um prédio discreto, junto à Igreja do Carmo, José Pinto é dos mais bem-dispostos. São da sua autoria as rimas que estão num quadro junto à janela. A Barbearia Invicta comemora 50 anos.
José Pinto ainda não tem esses anos de casa, mas não falta muito. No próximo mês de setembro comemora meio século neste salão, com gosto por tudo. "Gosto muito dos clientes, de rir e rimar".
Aventino Silva é quase o oposto de José Pinto, que passou de funcionário a sócio, e é o mais frenético no salão. Aventino, fundador da Invicta, é barbeiro, como o pai e o avô foram, desde os dez anos. Recorda que nos primeiros tempos da casa que ainda é sua, safou-se graças à habilidade para cabelos de homem e de mulher.
"Usava os cabelos iguais aos dos Beatles e muitas barbearias não estavam habituadas. Só cortavam cabelos curtos e depois fecharam. Eu, como tinha tirado o curso de cabeleireiro de mulheres, aguentei-me".
Com mais de setenta anos de profissão, Aventino Silva faz contas por alto e estima ter cortado o cabelo a muitos milhares de pessoas. Tem clientela fixa, de várias gerações, com mais ou menos fama.
"Para mim, os meus clientes são todos famosos a partir do momento que se sentam na minha cadeira. Tenho muita clientela... Doutores, médicos, autarcas... O Dr. Rui Rio, por exemplo...".
À volta dos espelhos da barbearia, Aventino Silva expõe todo o tipo de troféus: taças, diplomas, medalhas. Valoriza alguns dos mais antigos, como os dois diplomas que recebeu no final dos cursos que frequentou em Paris, há cerca de trinta anos.
Na cadeira de Aventino Silva está sentado José Dias. Apresenta-se como cliente fundador, apreciador do ambiente "calmo".
Aventino Silva não é só o barbeiro de José, é amigo e confidente. "Ele deixa-nos falar e sabe ouvir. Isto é como uma psicoterapia".
Adepto do Boavista, o fundador da Invicta garante que aqui não tem clube. É sempre do mesmo que o cliente. Gosta de falar e de ouvir, um dos grandes segredos da profissão. "Tenho segredos comigo que não os revelo a ninguém".
Francisco Moreira é mais um dos mais antigos na casa. Enquanto dá os últimos retoques no penteado de um cliente conta que estreou-se nesta arte quando vivia na aldeia. O primeiro dia, no centro do Porto, foi difícil, porque "o modo de trabalhar era muito diferente".
Cada barbeiro tem os seus clientes e Francisco gosta dos mais exigentes, porque "um cliente exigente faz um bom artista".
Com mais de quarenta anos de casa, Francisco Moreira realça a fidelização dos clientes. A barbearia, instalada na Praça Carlos Alberto, no primeiro andar de um prédio com entrada discreta consegue sobreviver porque "somos como uma família".
No outro canto no salão, José Pinto já tem outro cliente em mãos. Continua a sorrir e a rimar.