Uma equipa de arqueólogos descobriu no lugar da mamoa da Alagoa, freguesia de Jou, Murça, a primeira oficina de talhe (pedreira) do neolítico conhecida em Portugal. O achado deverá ter uma uma datação cronológica com mais de 3.500 A.C..
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Uma equipa de arqueólogos descobriu no lugar da mamoa da Alagoa, freguesia de Jou, Murça, a primeira oficina de talhe (pedreira) do neolítico conhecida em Portugal, foi hoje anunciado.
A arqueóloga Maria de Jesus Sanches, que lidera a equipa de 20 alunos da Faculdade de Letras do Porto que fez a descoberta, disse à agência Lusa que, numa área de cerca de um quilómetro quadrado, foi localizada uma oficina de talhe, que se prevê tenha uma datação cronológica de mais de 3.500 A.C.
«É uma coisa única e não tenho conhecimento que haja mais alguma em Portugal», disse a arqueóloga.
Segundo Maria de Jesus Sanches, foram descobertas lâminas de quartzo e mais alguns instrumentos, tais como raspadeiras e machados talhados. A arqueóloga admite que aquela oficina deveria servir muitos povoados das redondezas e de zonas mais distantes.
No lugar da Alagoa, os arqueólogos começaram porestudar um monumento neolítico, uma mamoa ou dólmen, também conhecidos por criptas, que, segundo explicou Maria Sanches, são grandes monumentos de enterramento colectivo.
As escavações em Jou tiveram início no ano passado com o estudo e a restauração da mamoa do Castelo, situada a escassos quilómetros do monumento da Alagoa.
Monumentos fazem parte de agrupamentos
Os dois monumentos fazem parte de um agrupamento de 11 dólmens, dos quais já só restam sete, e que surgem isolados ou associados dois a dois nos pontos topograficamente mais proeminentes das pequenas lombas que caracterizam o território delimitado pelas aldeias de Castelo, Toubres e Aboleira, freguesia de Jou.
Os trabalhos servem também, segundo explicou Maria de Jesus Sanches, como «escavação escola».
«Em primeiro lugar estamos a estudar o local de forma a podermos reconstituir os rituais, a própria religiosidade e a estrutura social das sociedades neolíticas», salientou a arqueóloga.
Os dólmens são os túmulos/templos das primeiras sociedades agro-pastoris da região, explicou Maria de Jesus Sanches.
«São os primeiros monumentos dos povos que começaram a transformar a paisagem através da agricultura e da pastorícia», realçou.
No local foram ainda encontrados machados, enxadas, micrólitos, pequenas lâminas de sílex, materiais versáteis que entravam na composição de vários instrumentos , nomeadamente facas, pontas de seta e foices, e muitos materiais de adorno, como colares de contas de xisto.
No dólmen da Alagoa os investigadores encontraram apenas seis pedras no corredor original do monumento e os alicerces da câmara tumular.
«O monumento está muito devastado», sublinhou a coordenadora.
No final da escavação, o monumento vai ficar restaurado «tal como quando os povos fechavam o dólmen e ficava uma colina artificial, o que é, no fundo, a mamoa», referiu Maria de Jesus Sanches.
Os dois monumentos serão visitados no mesmo circuito e mostrarão às pessoas como era o dólmen (Castelo) e como este ficava depois de fechado (Alagoa).
Os objectos encontrados nas escavações vão ser guardados no Centro Arqueologia, Artes e Ofícios de Murça, cuja construção está prevista para o próximo ano.