As divergências internas marcaram os trabalhos desta manhã no XVI Congresso do PCP. Se Francisco Lopes criticou os «renovadores» por caluniarem a imagem do partido, Artur Ribeiro lembrou palavras de Carvalhas a incentivar os militantes a questionarem-se.
Corpo do artigo
O congresso do PCP continuou hoje a manter o estilo de confronto de ontem, com o sector maioritário «cunhalista» a acusar os «renovadores» de colaboracionismo com as «calúnias» da Comunicação Social e estes a protestarem contra o clima de suspeição instalado.
Francisco Lopes, da Comissão Política e do Secretariado do partido, também um dos autores da Proposta de Resolução Política, denunciou a «violenta ofensiva» de que estão a ser alvo os comunistas por parte «dos inimigos de sempre, que não se conformam com a existência» do PCP.
Depois, especificou quem são os responsáveis por essa ofensiva: os órgãos de comunicação social, mas que «contaram com a colaboração de alguns membros do partido, em clara violação dos estatutos e regras de funcionamento do PCP».
Esses inimigos, segundo o dirigente comunista, «intoxicam, rotulam e caluniam a imagem do PCP. Querem abalar as nossas convicções e a nossa alegria», protestou, depois de ter feito uma análise optimista sobre a evolução do partido nos últimos quatro anos, que, na sua opinião, terá mesmo dado passos nos objectivos de rejuvenescimento dos seus militantes.
«Em termos de organização, não partimos do zero», sublinhou, recebendo uma prolongada salva de palmas dos congressistas.
Os primeiros assobios para a renovação
Os primeiros assobios, embora muito tímidos, escutaram-se na intervenção do dirigente distrital do Porto Artur Ribeiro, que já no primeiro dia do congresso havia subido à tribuna para exigir uma alteração dos estatutos no sentido de neles incluir o documento reformador «Novo Impulso» - proposta que a mesa nem sequer chegou a colocar à discussão.
Artur Ribeiro citou em defesa das suas posições as palavras proferidas há quatro anos pelo secretário-geral do PCP, Carlos Carvalhas, durante o congresso do Porto, em que incentivou os militantes a questionarem-se, a ouvirem e a confrontarem-se com perspectivas contrárias às suas opiniões.
«Das duas uma: ou foi o secretário-geral do partido que mudou de posição, o que não acredito, ou foi o congresso que mudou», observou, defendendo, depois, o voto secreto na eleição do Comité Central.
«Sobretudo neste congresso, marcado por um clima de suspeição, justifica-se o voto secreto», comentou.
Este militante comunista do Porto queixou-se ainda de não haver circulação horizontal de informação e apelou aos congressistas para não confundirem «unanimidade com unanimismo».
Antes de pedir uma «sentida homenagem» ao falecido dirigente comunista Luís Sá, desafiou Carlos Carvalhas a esclarecer os motivos que levaram o membro da Comissão Política Edgar Correia a afastar-se deste órgão partidário.
«Edgar Correia fez acusações da maior gravidade e está disposto a testemunhá-las» junto da direcção, sublinhou o militante comunista de Matosinhos.