Bruno Vieira Amaral vence Prémio José Saramago

O romance "As primeiras coisas", de Bruno Vieira Amaral, é o vencedor do Prémio José Saramago, que foi anunciado esta terça-feira, na Casa dos Bicos, em Lisboa. O autor dedicou o prémio a Luaty Beirão.

Porque "não é concebível que alguém esteja preso pelas suas ideias", o escritor não quis desperdiçar a oportunidade para chamar a atenção para o caso do luso-angolano que, há um mês, está em greve de fome em Angola.

O tema marcou o discurso de Bruno Vieira Amaral após ser distinguido com a nona edição do Prémio Literário José Saramago. Depois, em conversa com a TSF, o autor explicou que, mesmo que não concorde, "quando vejo alguém a levantar a sua voz contra as estruturas religiosas, políticas, partidárias, estou automaticamente do lado desse indivíduo, porque essas estruturas, de poder, podem silenciá-lo". Por isso, defende o premiado, "é desse lado que devemos estar".

"As primeiras coisas", obra publicada pela editora Quetzal em 2013, conta uma "história de reconciliação". Com o passado, com a vida, com o mundo em redor. Passa-se no Bairro Amélia, algures na Margem Sul do Tejo. Mas Bruno Vieira Amaral recusa que seja uma história, auto-biográfica. Embora partilhe o nome com o personagem principal, o escritor diz que não têm mais nada em comum.

"Por exemplo, esta relação muito doentia que ele tem com o bairro... eu nunca tive essa relação com o sítio onde cresci. Mas era importante para conseguir alguma tensão dramática", justifica Bruno Vieira Amaral.

"As primeiras coisas", o primeiro romance do jovem escritor, recebeu já outros dois prémios: Fernando Namora/Estoril Sol e P.E.N./Narrativa. Segundo a editora Quetzal, que publicou a obra em 2013, este "é um mosaico de personagens marginais, inesperadas, carregadas de histórias que se ligam entre si: podíamos conhecê-los a todos, não morariam muito longe de uma grande cidade".

"A Humanidade inteira arde no Bairro Amélia, um lugar perdido na margem sul do Tejo, onde a História é reconstruída por personagens que raramente aparecem na nossa literatura. Memórias, embustes, traições, homicídios, sermões de pastores evangélicos, crónicas de futebol, gastronomia, um inventário de sons, uma viagem de autocarro, as manhãs de domingo, meteorologia, o Apocalipse, a Grande Pintura de 1990, o inferno, os pretos, os ciganos, os brancos das barracas, os retornados", prossegue a Quetzal em comunicado.

O Prémio Literário José Saramago, instituído pela Fundação Círculo de Leitores, distingue autores com obra editada em Língua Portuguesa, no último biénio. A atribuído a cada dois anos e tem o valor pecuniário de 25.000 euros.

O júri foi presidido pela editora Guilhermina Gomes, e além da poetisa Ana Paula Tavares, fizeram também parte os escritores Nelida Piñon e António Mega Ferreira e a presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Río.

Bruno Vieira Amaral nasceu em 1978, é licenciado em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa. Crítico literário, tradutor, Bruno Amaral é autor do "Guia para 50 personagens da ficção portuguesa" e do blogue Circo da Lama. Colaborou no DN Jovem, na revista Atlântico e no jornal i, e, atualmente, colabora com a revista Ler e trabalha no grupo editorial Bertrand Círculo.

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