Para maiores de 65 anos: atores podem beneficiar de bolsa

A TSF foi saber como funciona a bolsa para apoiar artistas seniores e a importância desta iniciativa, que arranca já no próximo dia 2.

Os atores e atrizes com mais de 65 anos vão ter a possibilidade de beneficiar, a partir do próximo ano, de uma bolsa sénior que tem como objetivo melhorar os rendimentos e as condições de vida dos artistas. A TSF ouviu o ator Carlos Vieira de Almeida, que explica a importância desta iniciativa para os atores seniores em Portugal.

A iniciativa é conjunta: a Fundação GDA (Gestão dos Direitos de Artistas) e a Associação para a Gestão Coletiva de Direitos de Autor e Produtores Cinematográficos e Audiovisuais (Gedipe) decidiram apoiar os atores e atrizes através da "Bolsa de Integração Profissional para Artistas Seniores no Setor Audiovisual".

Esta bolsa paga os rendimentos dos atores até três mil euros e, no caso da contratação de mais artistas por projeto, a Fundação GDA e a Gedipe suportam um total até nove mil euros - os custos são repartidos pelas duas entidades em partes iguais.

No total, as produtoras que aderirem ao projeto e contratarem os atores com mais de 65 anos vão pagar apenas 30 por cento do salário de cada artista.

"Estamos a falar de um projeto de responsabilidade social, um problema sério que tem de ser visto de forma séria", refere Paulo Santos, diretor-geral da Gedipe. "É preciso encontrar soluções que minimizem os efeitos de final de carreira sem trabalho", acrescenta. Os artistas com mais de 65 anos são cada vez menos contratados, uma situação que Paulo Santos considera "um problema social".

"Classe desprotegida"

Os requisitos para a aquisição desta bolsa são fáceis de anotar: ter mais de 65 anos, rendimentos entre os 900 e os 950 euros e não ter trabalhado no cinema ou na televisão no último ano. Assim, a ideia é promover o envelhecimento ativo dos atores, de maneira a continuarem as carreiras no mundo do espetáculo.

"Os artistas em Portugal são uma classe desprotegida, têm um trabalho muito intermitente", sublinha, por seu lado, Mário Carneiro, diretor-geral da Fundação GDA, referindo também: "Sabemos que não há condições para que as pessoas cheguem à fase da pensão."

Um dos problemas apontados por Mário Carneiro é a falta de um agente regulador do estatuto profissional do artista, o que representa "uma seleção de pessoas que não são necessariamente profissionais, ou seja, que não fizeram a sua carreira académica na área", o que faz com que o mercado de trabalho seja ainda mais pequeno.

O projeto-piloto começa já no próximo ano, a 2 de janeiro, e o orçamento total é de 90 mil euros anualmente. Mário Carneiro admite que, se o projeto for bem sucedido, as duas entidades podem aumentar a almofada orçamental: "Nós vamos ter que ver o funcionamento [do projeto], acompanhar muito bem a execução do programa, sobretudo nos primeiros meses, e perceber se de facto há um número significativo de atores que se encontram nesta situação e que beneficiam deste programa", afirma Mário Carneiro. E acrescenta: "Estamos disponíveis para equacionar o que for preciso e, da nossa parte e creio que da Gedipe também, se eventualmente for caso disso, proceder para o ano ao aumento dessas verbas."

A perspetiva de Carlos Vieira de Almeida, ator aos 72 anos

Conhecido por interpretar o agente Lino da novela Vila Faia, de 1982, mas para outros - sobretudo os mais jovens - é Carl Fredricksen, o reformado vendedor de balões do filme de animação produzido pela Pixar "Up, Altamente!", Carlos Vieira de Almeida, membro da Fundação GDA, disse à TSF que anseia por mudanças no mundo do espetáculo, um meio que, no seu entender, nem sempre é justo para com os atores seniores.

"Há cachês que são, no mínimo, ofensivos sobretudo para aqueles atores que já têm carreira, já têm um passado", confessa Carlos Vieira de Almeida que, por ser ator há mais de quatro décadas, conhece bem os valores do mercado artístico.

A realidade, conta, é que na profissão de artista "a questão da reforma não se coloca com a mesma pertinência que se põe noutras profissões". "Os atores enquanto tiverem vida e saúde" continuam a trabalhar, refere Carlos Vieira de Almeida, acrescentando que as bolsas de integração profissional aos atores seniores no setor audiovisual promovem mais do que um envelhecimento ativo: abrem portas para se resolver "a questão das remunerações dos artistas, por exemplo, com as televisões que não pagam aos artistas há muitos anos".

Este projeto pode, na opinião de Carlos Vieira de Almeida, atribuir estatuto aos atores com formação, tal como acontecia nos anos 1980. "No fundo, depois do 25 [de Abril] resolveram acabar com a carteira profissional. Ela concedia-nos determinados deveres, mas também nos concedia respeito pelo curso que o ator tivesse", acrescenta.

O ator acredita que este projeto possa dignificar o artista em geral, e as pessoas com mais de 65 anos em particular. Carlos Vieira de Almeida afirma que o mundo do espetáculo em Portugal devia adotar os parâmetros internacionais. "Se for ao Brasil, ou aqui ao lado a Espanha, ou a França há requisitos para haver a contratação de atores. Aqui, é um bocado selva."

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