"É moralmente tão complicado como publicar uma decapitação"

Presidente do júri do World Press Photo 2017 votou contra imagem vencedora. Entre os fotojornalistas, as opiniões também se dividem sobre a escolha deste ano.

O presidente do júri do concurso World Press Photo 2017, Stuart Franklin, revelou esta segunda-feira que votou contra a imagem do assassinato do embaixador russo na Turquia captada pelo fotógrafo turco Burhan Ozbilici.

"É a imagem de um assassinato, com o assassino e o morto, ambos na mesma fotografia, e moralmente é tão problemático como publicar um terrorista a decapitar a vítima", afirma o presidente do concurso internacional num artigo de opinião publicado na edição "online" do jornal britânico The Guardian.

A foto escolhida pelo júri do prémio internacional mostra o polícia turco de pé, ao lado do corpo do embaixador Andrei Karlov, após o assassinato, que ocorreu durante um discurso, na inauguração de uma exposição de arte na capital da Turquia.

A imagem, captada por Burhan Ozbilici, fotógrafo da Associated Press, faz parte de uma série intitulada "An Assassination in Turkey" ("Um assassinato na Turquia"), que também conquistou o World Press Photo na categoria "Spot News - Stories".

No artigo de opinião publicado pelo The Guardian, Stuart Franklin admite que a fotografia de Burhan Ozbilici "tem impacto, sem dúvida", e ele era favorável que vencesse na categoria de "Spot News - Stories", mas não para foto do ano.

"Colocar esta fotografia num pedestal tão alto é um convite àqueles que contemplam a espetacularidade destes palcos: reafirma a associação do martírio e publicidade", considera ainda.

Franklin elogia o trabalho do fotógrafo turco e considera que merece reconhecimento, mas recorda que o debate sobre esta questão não é novo e que o seu voto contra foi por recear que os grandes prémios amplifiquem as mensagens de terroristas pela publicidade adicional.

Mário Cruz, fotojornalista português distinguido em 2016 na categoria temas contemporâneos com o trabalho sobre a escravatura das crianças no Senegal, também confessa que não escolheria esta foto para o prémio do ano.

Mário Cruz explica porque não escolheria a foto para Foto do Ano

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Ouvido pela TSF, o fotojornalista diz que o instante captado correu mundo e cumpriu a missão que lhe cabia. No entanto, considera que a fotografia do ano tem de revelar mais do que o choque daquele instante captado e dá o exemplo do último ano para ilustrar o que considera ser a missão do World Press Photo.

Há, no entanto, quem avalie de outra forma a escolha da foto.

José Manuel Ribeiro, o fotografo que captou em 2012 para o jornal Público a imagem de uma jovem a abraçar um polícia na manifestação contra a austeridade, saúda o que considera ser o regresso dos factos às escolhas da organização.

Manuel Ribeiro diz que foto merece a escolha e explica porquê

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É a terceira vez que a cobertura de um assassinato vence o concurso World Press Photo, sendo a mais conhecida, a da morte de um suspeito guerrilheiro Vietcong, captada por Eddie Adams em 1968.

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