"Eu, Raphael Gamzou, embaixador de Israel em Portugal, venho expressar a minha perplexidade ao tomar conhecimento de um artista que prima pelo talento e pela originalidade, como é o caso de Tiago Rodrigues, ter optado conscientemente tornar-se refém de uma organização terrorista como o Hamas. Uma organização extremista, cínica e cruel, até para o seu próprio povo", refere o diplomata num comunicado.
"Decidi não apresentar o meu espetáculo no Israel Festival, em junho, porque acredito que é a única forma de garantir que o meu trabalho artístico não servirá para justificar ou apoiar um governo que comete deliberadas violações dos direitos humanos e está atualmente a atacar violentamente o povo palestiniano", refere o autor, ator e encenador, num comunicado divulgado na quinta-feira.
Por seu lado, Raphael Gamzou refere que "esperava, de um artista como Tiago Rodrigues, que fosse capaz de pensar 'out of the box' [fora da caixa, em português] resistindo ao facilitismo dos clichés mais utilizados para caracterizar a realidade complexa com a qual a sociedade israelita é confrontada". "Esperava, de um tal intelectual, que fosse capaz de pesquisar, estudar minuciosa e apuradamente aquela realidade sem fugir para a zona de conforto que é o bom-tom do meramente superficial", afirma.
O diplomata salienta que "Israel é uma democracia há precisamente 70 anos , "algo que seguramente merece ser celebrado", referindo que o país "tem sido forçado a defender-se a si e aos seus civis de uma organização terrorista".
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"Por isso e à luz da decisão que tomou em boicotar aquela que é a única democracia do Médio Oriente, a Tiago Rodrigues desejo os maiores sucessos nos vizinhos de Israel: no Irão, na Gaza do Hamas, no Líbano do Hizbollah, na Síria de Assad e tantos outros...todos eles campeões no que aos Direitos Humanos diz respeito", lê-se no comunicado.
Tiago Rodrigues explicou que aceitou o convite para apresentar o espetáculo "By Heart", em Jerusalém, "há mais de um ano, na convicção de que se tratava de uma participação num festival que promovia pensamento crítico dentro do Estado israelita".
O autor acrescentou que aceitou por acreditar "que o povo de um país e a sua administração política não são a mesma coisa". Tiago Rodrigues diz ter-se apercebido depois, "através das comunicações oficiais do festival", que a edição deste ano "marca o 70.º aniversário da independência do Estado de Israel".
Segundo Tiago Rodrigues, "o TNDMII já expressou publicamente que se trata de uma decisão pessoal e não de uma decisão institucional, que, no entanto, respeita".