A arte de criar filigranas pode estar ameaçada. Pelo menos a sua criação artesanal, à mão. A construção da típica peça de joalharia portuguesa, o coração torto conhecido como filigrana, pode, no prazo de uma década, deixar de ser criado à mão por falta de "enchedeiras".
O jornalista Miguel Midões foi conhecer uma arte em vias de extinção
Quase todas estas mulheres, que criam a malha que preenche esta peça de joalharia, têm uma idade avançada. E, numa altura em que a filigrana conhece um novo impulso nas vendas, pela maior procura turística, e pela visibilidade que a atriz Sharon Stone deu à peça, os artesãos preocupam-se com a sua possível extinção.
"É uma obra de arte que só elas a fazem. Uma pinça, uma tesoura e fio nas mãos, e elas querem é trabalhar", diz o artesão António Almeida. Ourives desde os nove anos, mas prefere que lhe chamem "filigraneiro". Com as suas mãos cria a estrutura das filigranas, mas depois é preciso encontrar quem, com o fio que tem a espessura de um cabelo as possa encher. São as "enchedeiras", cada vez menos e cada vez mais velhas.
"A enchedeira está para a filigrana como a essência está para o perfume. Eu sei talhar e moldar as peças, mas não as sei encher. Não se esqueçam delas porque elas vão desaparecer", alerta.
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E é o próprio António Almeida, que explica a razão porque as "enchedeiras" estão em extinção: "Estão todas na casa dos setenta anos".
António Almeida, que começou cedo como ourives, hoje gere uma empresa, a Silver ARPA, de 25 funcionários, e garante que a possível extinção das "enchedeiras" é a primeira ameaça das filigranas portuguesas, mas existe ainda uma segunda, como se pode ouvir reportagem sonora.
António Almeida reconhece e aplaude o trabalho que a autarquia de Gondomar tem realizado na promoção da filigrana, com a criação de uma rota turística, mas como artesão deixa o alerta para esta possível extinção e a necessidade de formar quem possa vir a fazê-lo.
As filigranas adquirem maior visibilidade com as festas e romarias minhotas, sobretudo em Viana do Castelo, mas é para Gondomar, terra de ourives, que é apontada a origem desta peça de joalharia.