O programa chama-se Mini Daesh e o genérico de cada um dos episódios (já são mais de 30) é ilustrativo q.b. Há explosões, tiros, metrelhadoras, terroristas, coletes de dinamite e um sem-fim de dor e lágrimas. Também há música.
As filmagens são feitas com recurso a câmaras escondidas e quando o programa começa, as vítimas não fazem ideia do inferno em que se estão a meter.
No primeiro episódio - e em muitos dos que se seguiram - uma mulher começa a chorar de forma descontrolada quando percebe que foi sequestrada por militantes islâmicos. Heba Magdi, uma cantora egípcia, vê-se obrigada a implorar para não ser morta enquanto os atores vestidos de terrorista apontavam armas na sua direção e a obrigavam a vestir um colete de explosivos.
Tudo em nome do humor e das gargalhadas.
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Cerca de 20 minutos depois o terror acaba. Homens disfarçados de agentes da polícia entram na casa onde está a decorrer o sequestro e salvam a mulher.
Só depois é que um dos participantes do programa humorístico conta à jovem que tudo não passou de uma alegre brincadeira e que esteve a ser filmada para um programa de televisão.
Apesar disso, Heba Magdi continua durante algum tempo em choque.
"É muito divertido"
Mohamed Hisham el Rashidi, o produtor da série, diz que a série tem momentos muito engraçados e apesar de alguma polémica inicial, o Mini Daesh continua a ser transmitido. Está agora no trigésimo episódio. O produtor da série diz que este se trata de um programa único, não pelo conteúdo violento das imagens, mas porque "o que nos distingue é que em cada episódio acontece alguma coisa diferente. A um médico dizemos-lhe que tem de vir rápido porque alguém está doente; um ator pode ser seduzido com uma obra de caridade e a um trabalhador comum, dizemos que há um problema nos seus serviços".
Em entrevista, Mohamed Hisham el Rashidi diz que as vítimas, "quando veem os raptores, assustam-se. Alguns negam-se a gravar o juramento de adesão ao Daesh, mesmo quando os terroristas lhes oferecem dinheiro. Outros descobrem que é tudo um embuste. De qualquer forma, antes de escolhermos as nossas vítimas, averiguamos o seu historial clínico e mental neste momento".
Há momentos em que se ouve o disparo de tiros, ou se simula que o edifício está rodeado de polícias que se preparam para invadir a residência. Algumas das vítimas, com o desenrolar dos acontecimentos, tentam fugir atirando-se pela janela.
O humor atinge um pico quando "há uma cena em que uma suposta militante é assassinada à frente da nossa vítima para a forçar a cooperar com a falsa célula do Daesh" conta o criador da série enquanto se defende das críticas que dizem que o programa é imensamente cruel e brinca com um movimento que arrasou a região. "É verdade que temos recebido queixas, mas há sempre queixas quando algo tem êxito. E há episódios que deviam ser estudados, por exemplo, o do varredor de ruas. Apesar de precisar de dinheiro, ele recusou-se a colaborar e até pediu para que o episódio fosse transmitido para ele o mostrar aos filhos".