"Lamento a proletarização da profissão de professor"

Vítor Aguiar e Silva lamenta a proletarizarão dos professores, conta que se reformou para se dedicar aos livros e afirma que a crítica literária feminista é uma das grandes revoluções do século XX.

"É um mestre, autor da mais importante obra portuguesa de Teoria da Literatura" - foi com estas palavras que o Presidente da República felicitou Vítor Aguiar e Silva, vencedor do Prémio Vasco Graça Moura 2018. O júri do prémio destacou "o percurso incomum" de Vítor Aguiar e Silva.

"Sinto-me desvanecido, a palavra incomum é incomum e de algum modo reflete o meu percurso de vida desde a Universidade de Coimbra até à Universidade do Minho", lembra. "Licenciei-me em 1962 com 19 valores. Dei aulas em novembro de 1962 numa cadeira nova das universidades portuguesas: Teoria da Literatura",

O professor conta que o interesse pela literatura surgiu muito novo, ainda em Penalva do Castelo, distrito de Viseu, onde nasceu. "O liceu tinha uma bela biblioteca, encontrava autores clássicos e modernos e para mim era um deslumbramento... Foi nesse espaço do Liceu de Viseu que nasceu a minha curiosidade pelo fenómeno literário".

Neste momento está a reescrever a "Teoria da literatura, espera ter a obra concluída antes de festejar 80 anos. "Na segunda metade do século XX houve uma grande transformação. O feminismo, a crítica literária feminista é uma das grandes revoluções da segunda metade do século XX, teve impacto não só na escola mas na sociedade em geral".

Autor do primeiro dicionário sobre a vida e obra de Luís Vaz de Camões, considera esta uma das suas obras mais marcantes. "Na escola nunca tive nos programas de literatura portuguesa o estudo de Camões, mas fui aluno de um grande camonista: o professor Costa Pimpão".

Vítor Aguiar e Silva licenciou-se na Universidade de Coimbra, onde também deu aulas; foi vice-reitor da Universidade do Minho de 1989 até 2002, data em que pediu a aposentação. "Estava cansado do trabalho burocrático, pensei que ainda teria alguns anos de vida e devia aproveitar para trabalhar nos meus livros".

Desta passagem pela mundo universitário diz que que não tem uma visão apocalíptica das gerações mais novas. "Na década de 50/60 entravam nas universidades alunos muito bem preparados, nos anos 80 a preparação era mais insatisfatória, mas há sempre alunos com qualidade e que manifestam interesse". Lamenta o que diz ser a "proletarização da profissão de professor".

É um dos opositores ao acordo ortográfico, "não escrevo segundo o acordo nem nunca escreverei. Choca-me que tenham trazido transformações que me parecem insatisfatórias. A ideia de que seria mais fácil acabar com o analfabetismo é uma ideia falsa".

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