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Para além dos bailaricos e das festas religiosas, as violas tradicionais portuguesas têm um outro lugar onde se podem juntar para "falarem" entre si. Este ponto de encontro onde se repetem melodias antigas é o Encontro de Violas de Arame que teve, no passado fim de semana, a oitava edição.
Pedro Mestre, coordenador do Centro de Valorização da Viola Campaniça, é um dos responsáveis por este encontro e esteve na Manhã TSF acompanhado da sua viola alentejana.
Tocada apenas com o dedilhar do polegar por entre as suas 10 cordas, a campaniça - que costuma acompanhar os cantares à desgarrada e os "cantes a despique" - foi uma das estrelas da 8.ª Edição do Violas de Arame, em São Martinho das Amoreiras, uma aldeia de Odemira.
"A campaniça está com bastante procura e é do interesse de muitos músicos e curiosos que querem conhecer melhor este instrumento, aqueles que são alentejanos e não só", afirmou Pedro Mestre.
A guitarra de 10 cordas, no colo de Pedro Mestre, "de especial tem tudo" e, apesar de semelhante a uma qualquer outra viola, transporta consigo a cultura do Alentejo.
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Quem também transporta a cultura de outras regiões são as restantes violas de arame que se reuniram durante este evento.
A campaniça (Alentejo), a braguesa (Minho), a beiroa (Beira Baixa), a de arame (Madeira), a da terra (Açores) e a caipira (Minas Gerais, Brasil). Todas elas, de diferentes regiões geográficas foram "uma maravilha", segundo Ricardo Fonseca, dono de uma viola de arama da Madeira.
Um instrumento com regras específicas
A tradição que acompanha estas violas de arame exige regras na maneira como são exploradas.
Exemplo disso é a viola tradicional beiroa onde duas das 10 cordas que a compõe só podem ser tocadas com o polegar da mão direita e por essa mesma razão, ambas as cordas terminam a meio do braço da viola.
"Toco com o polegar nessas [duas] e com o indicador nas outras cordas para tocar de maneira tradicional", explica Ricardo, dono de uma viola de arame da Madeira.
Adotado pelas tunas académicas e por artistas como BFachada e Júlio Pereira, Pedro Mestre não tem dúvidas que sem a dedicação destes artistas, a transmissão das vertentes mais ricas destas violas seria perdida.
A cada dedilhar nestas violas a tradição perdura e vai fascinando músicos e curioso, levando consigo um bocadinho de cada região portuguesa.