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Nos Jogos Paralímpicos de Tóquio, há uma dupla participação brasileira que tem mais marcas portuguesas que todas as outras.
Jane Karla e Lethícia são mãe e filha, e diariamente treinam contra as dores e pela ambição de participar nos jogos em duas modalidades diferentes.
Vivem em Portugal desde 2018.
Em Tóquio, Jane Karla Gogel, 46 anos, vai participar na quarta paralimpíada consecutiva.
Em Pequim e Londres, no ténis de mesa. Desde o Rio de Janeiro, mudou para o tiro com arco.
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Lethícia Lacerda tem 18 anos, e estreia-se nos jogos. Pratica ténis de mesa.
Há detalhes na história destas duas brasileiras de Goiás que as fazem diferentes da generalidade dos participantes nestes jogos paralímpicos.
Em criança, Jane Karla teve poliomielite e as sequelas ficaram para a vida.
Só começou a praticar desporto aos 30 anos, já casada e com filhos.
Jane participou em dois jogos, Pequim e Londres, como mesa-tenista. E depois, a vida trocou-lhe as voltas.
Um cancro da mama obrigou-a a desistir, primeiro, e renascer, depois.
Há cinco anos, e agora, em Tóquio, Jane compete no tiro com arco, sentada numa cadeira de rodas.
No Rio de Janeiro, foi a quinta classificada.
A brasileira mora e treina em Portugal há três anos, depois de ser sequestrada em casa, com toda a família, no Brasil.
Um trauma que a fez mudar de continente, e a escolher Portugal para viver.
Participa no campeonato nacional da modalidade como arqueira do Sporting, tendo já alcançado títulos nacionais por equipas, já que individualmente os títulos estão vedados a estrangeiros.
Jane Karla liderou o ranking mundial paralímpico, em 2019.
A filha, Lethícia Lacerda, apurou-se para os jogos paralímpicos, na antiga modalidade de Jane, o ténis de mesa.
Tal como a mãe, Lethícia já esteve presa a uma cadeira de rodas mas agora consegue jogar de pé.
A pandemia
A pandemia trocou as voltas à mãe e filha.
Jane Karla ficou sem provas para competir, e treinou na sala quando precisa normalmente de 50 metros para poder atirar.
Confessa que foi um desafio que gostou.
Treinar em casa e participar em provas num formato online, em que cada participante cumpria a participação nos campos pessoais, ou dos respetivos clubes, e depois os resultados eram comparados.
Mas como estes formatos não permitiam fazer a preparação, Jane Karla comprou um terreno no Ribatejo, e decidiu passar a viver num pré-fabricado, junto ao local de treino.
A filha, Lethícia Lacerda, nem no apartamento, nem no pré-fabricado teve espaço para instalar a mesa necessária para treinar.
Nos últimos meses, regressou aos treinos, no clube Top Spin, de Sintra, e o final da preparação foi feito em S. Paulo, na sede da federação brasileira de tiro com arco.
Expectativas
Jane Karla tem batido recordes pessoais, brasileiros, americanos e até um recorde mundial, desde que foi quinta classificada nos Jogos do Rio de Janeiro.
Falta a medalha e a arqueira confessa que é um sonho que espera alcançar.
No Rio, só perdeu para duas arqueiras chinesas que chegaram às medalhas.
Lethícia sabe que já é uma vitória chegar à primeira paraolimpíada, mas reconhece que esta não é a melhor época que fez.
Portanto, promete lutar ponto a ponto por um bom resultado, e depois ver-se-á se isso significa chegar às medalhas.
Mãe e filha estão satisfeitas por partilharem em Tóquio, esta experiência olímpica, mesmo sem saber se vão poder estar na bancada para se apoiarem uma à outra.