Os Jogos Paralímicos nasceram há mais de 60 anos justamente no Reino Unido. Um médico que enfrentou o horror dos efeitos da II Guerra quis provar que as pessoas com alguns tipos de paralisias também tinham muito para dar ao desporto.
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Ano 1944, local Stoke Mandeville, uma pequena localidade a 70 quilómetros de Londres, Ludwig Guttmann, médico e refugiado de guerra judeu, é nomeado diretor do centro nacional para as lesões na coluna, depois de a convite do governo britânico ter criado a instituição.
Desde o início impõe uma lógica nova no tratamento de paraplégicos e tetraplégicos. Até essa altura, os lesionados na coluna eram tratados como irrecuperáveis, vidas que a medicina não conseguia melhorar.
Sedados e imobilizados nas camas 24 horas por dia e, por vezes, engessados dos pés à cabeça, tinham uma esperança de vida de dois anos. Morriam não por causa da paralisia mas devido aos tratamentos. As feridas de imobilidade infetavam e acabavam por levar a complicações que resultavam na morte. Um cenário que Guttmann quis mudar.
Contrariando o conhecimento médico da altura e, por vezes, a vontade dos próprios doentes, começou a tratá-los como pessoas com muito para dar. Obrigou as enfermeiras a mudarem-nos de posição a cada duas horas, tirou-lhes o gesso, fê-los sentarem-se e exercitarem as partes do corpo que controlavam.
Por fim, fê-los desenvolverem competências como carpintaria ou datilografia que permitissem recuperá-los para o mercado de trabalho.
E não foi preciso esperar muito tempo até que Guttmann subisse a fasquia. Depois de ver alguns pacientes em cadeira de rodas a jogar hóquei com muletas, reparou que o espírito competitivo destes doentes, grande parte deles veteranos de guerra, estava intacto.
Incentivou-os a aprenderem arco e flecha e arremesso do dardo, e nos Jogos Olímpicos de 1948 em Londres houve um evento paralelo: os Jogos de Stoke Mandeville, com 16 atletas.