A Ericeira recebe por estes dias o Campeonato Nacional de Surf do Afeganistão, um país sem mar... e muito menos ondas. Quase todos os participantes são refugiados que chegaram à Europa quando eram crianças. E muitos nunca pegaram numa prancha.
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Se ninguém desistir antes, serão 15, os afegãos a entrar nas águas da Ericeira para participar no Campeonato Nacional de Surf do Afeganistão. Uma competição que envolve amadores com alguma experiência, mas a maioria são principiantes que, antes desta semana, nunca tinham pegado numa prancha.
Afridun Amu, o presidente da Associação de Surfistas do Afeganistão, sublinha que todos sabem que não somos os melhores do mundo a apanhar ondas. Dos 15 participantes (11 homens e 4 mulheres), grande parte só teve agora aulas.
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O mar e o vento forte que se registaram por estes dias complicaram ainda mais as contas, travando várias das lições previstas. A TSF assistiu a uma das primeiras aulas para principiantes e falou com o treinador, Pedro Carrasco, mais conhecido por PP, que admite: "em tão pouco tempo, vai ser muito difícil conseguir ter tipos de 80 ou 90 quilos em pé numa prancha...".
O professor sublinha, contudo, a "boa vibe" dos afegãos e recorda que parece "os primórdios do surf em Portugal quando não interessavam as manobras e entravam nos campeonatos aqueles que sabiam pôr-se em pé".
Afridun Amu e todos os principais com quem falámos sublinham contudo que este Campeonato Nacional de Surf tem como principal objetivo mostrar ao Mundo algo positivo, "que em qualquer outro lado seria normal", de um país que só aparece nas notícias por causa de guerras e de bombas.
Rosa Nadjini, uma das principiantes, é médica na Alemanha e sabe que fará uma figura bizarra ao participar no campeonato. Pode mesmo ganhar uma medalha pois apenas duas das quatro mulheres que participam já tinham tido contacto com uma prancha... Mas o mais importante, diz, "é fazermos algo pelo nosso país". Além de surf, o campeonato serve de pretexto para apresentações culturais e gastronómicas que mostrem o outro lado do Afeganistão.
Todos os participantes na competição identificam-se como afegãos mas vivem aliás fora do Afeganistão, de onde saíram quando eram crianças. São refugiados na Europa e na América onde estão bem integrados. Jovens adultos, por norma licenciados, que trabalham nas mais variadas profissões nos países de acolhimento.
O campeonato realiza-se em Portugal porque segundo os organizadores é um país fantástico para as ondas, com gente "muito simpática", que, ainda por cima, está habituada a receber competições de surf de outros países sem mar (por exemplo, o campeonato da Áustria).
As despesas foram pagas pelos próprios participantes e através de uma recolha de fundos na internet. Se tudo correr bem, o objetivo, após o campeonato, é recolher fundos para ensinar as crianças de Cabul a nadar. Depois, num futuro distante, talvez construir uma piscina de ondas na capital do Afeganistão.