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A César o que é de César! Parabéns à Liga Portugal, que finalmente tem aquilo por que tanto lutou: uma final four (um nome dos novos tempos, cheio de marketing) da Taça da Liga, com monopólio dos três grandes e da equipa anfitriã do torneio que, ainda para mais, é o "quarto grande" destes novos tempos, o Braga.
Ainda assim, se calhar o mais incrível é que tenha demorado tanto tempo até a Liga conseguir o seu grande objetivo para esta competição. O formato da prova, esquisito como ele só, com um grupo para cada uma das quatro equipas mais fortes, que jogam dois dos seus três jogos em casa - enquanto a segunda equipa mais poderosa de cada grupo realiza dois jogos fora em três - fez a cama bem feitinha mas só agora os mais fortes se conseguiram deitar nela. Pelo menos, todos ao mesmo tempo.
Felizmente, o futebol não se presta muito a estas modernices e foi quase por milagre que Porto e Benfica aqui chegaram, com os dois Desportivo, o de Chaves e o das Aves, a merecerem mais a respetiva qualificação. Mas chegaram, e a meia-final entre dragões e águias (a disputar esta terça-feira) é ainda mais fácil de vender do que a final four propriamente dita.
É que Porto e Benfica são tão claramente as duas melhores equipas portuguesas da atualidade, mas também dos últimos 40 anos do futebol português, que usar a expressão hegemonia neste caso é quase inevitável.
Começando pela história: nas quatro últimas décadas Porto e Benfica dividiram entre si 35 dos 40 títulos de campeão nacional. Além disso, só raramente não ocuparam o primeiro e o segundo lugar das tabelas finais do campeonato. São igualmente as únicas equipas portuguesas com alguma dimensão europeia nos últimos dez anos, como atestam as presenças regulares na fase eliminatória da Liga dos Campeões e as visitas constantes ao top 10 do ranking da UEFA
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Mesmo no que diz respeito à atual temporada, Porto (primeiro do campeonato) e Benfica (segundo) deixam a concorrência bem longe nos principais indicadores de qualidade dos respetivos plantéis. Em termos de valor de mercado dos seus jogadores, o Porto chega aos 296 milhões de euros e o Benfica aos 285 milhões, muito acima dos 172 do Sporting ou dos 92 do Braga. E no que toca à estabilidade dos planteis - fator cada mais decisivo, também à escala europeia - , as diferenças são igualmente importantes: aqui lidera o Benfica, com mais de três temporadas de permanência média dos seus atletas, seguido de perto pelo Porto, com cerca de duas temporadas e meia. Tanto Braga como Sporting ficam abaixo das duas épocas de permanência média nos seus plantéis.
Como se tudo isto fosse pouco, pelas razões certas (as que referimos acima) ou erradas (que nem vale a pena começar a enumerar), Porto e Benfica desenvolveram uma rivalidade acesa e exacerbada também fora do campo (ou das quatro linhas, usando esse cliché mais quadrado do que retangular), que torna quase impossível às duas equipas tratarem o jogo desta terça-feira como algo menor, apesar do enorme desgaste competitivo que começa a fazer os seus efeitos nos dois conjuntos. Mais uma vez para grande sorte da Liga Portugal.
Não deixa de ser verdade que o Benfica tem a vantagem da Taça da Liga ser uma espécie de coutada exclusiva. Em 11 edições, os encarnados venceram sete. Em 52 encontros disputados na história desta competição apenas perderam dois. E contra o Porto (que jamais venceu a prova) nunca perderam: em três jogos ganharam dois, a final de 2010, por 3-0, e a meia-final de 2012, por 3-2. O outro encontro (a meia-final de 2014) ficou empatado, mas o Benfica ganhou nos penáltis.
Favorável ao Porto é o histórico de confrontos recentes em todas as competições: nos últimos oito jogos entre as duas equipas os portistas ganharam três, empataram quatro e somente perderam um. Além disso, na presente temporada, os comandados de Sérgio Conceição estão há 20 encontros sem perder (19 vitórias), sendo que a sua última derrota por acaso até foi com o Benfica, em casa dos encarnados, a 7 de outubro.
Já o Benfica conta por vitórias (quatro) todas as partidas que realizou sob a orientação de Bruno Lage, sendo que o encontro desta terça-feira marca o arranque no confronto direto entre Lage e Conceição. Venha ele, mesmo sabendo que o mais provável é que no fim tudo se decida nos penáltis...
É que nos últimos nos últimos 16 clássicos (jogos entre Porto, Benfica e Sporting) registaram-se dez empates e esta Taça da Liga até neste particular tem um regulamento esquisito, próprio dos asséticos novos tempos futebolísticos: um empate nos 90 minutos regulamentares conduz imediatamente ao desempate por penáltis.
Para nós, adeptos, já não era mau que este "clássico dos clássicos" tivesse um pouco mais de emoção e ocasiões de golo do que os jogos entre os grandes das últimas três ou quatro temporadas, no quais somente foram marcados 18 tentos em 16 partidas, ligeiramente acima da média de um golo por jogo...
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